Prateleira
Edições (in)disponíveis no mercado:
Esgotado
O grupo Espanca! fez uma publicação independente da peça Por Elise em um livro viabilizado pela Lei de Incentivo Estadual de Minas Gerais. A edição está esgotada. A companhia, que tenta participar do Festival de Curitiba com seu terceiro espetáculo, Congresso Internacional do Medo, almeja reeditá-lo.
No futuro
Newton Moreno adianta que uma parceria entre o Consulado da França e a Imprensa Oficial, pelo projeto Palco Sur Scene (edições bilíngues com autores brasileiros e franceses), deve propiciar o lançamento das peças Agreste, A Refeição e Body Art. Agreste só havia sido publicada pela revista Sala Preta, da USP.
Hilda Hilst morreu sem realizar a ambição de ver suas peças publicadas. Talvez, até mesmo, poucos saibam que a polêmica criadora de O Caderno Rosa de Lori Lamby, que atualmente interessa encenadores a transporem sua prosa para o palco, escreveu para o teatro. Foram oito peças. Compostas em um intervalo curto, entre 1967 e 1969. Quando a moderna dramaturgia brasileira ganhava corpo e os textos dramatúrgicos de autoria feminina despertavam a atenção pela quantidade e qualidade.
Contemporânea de Leilah Assumpção e Renata Pallottini, mas singular entre elas, Hilda criou peças estigmatizadas como difíceis. Complexas, sem dúvida; pouco claras, provavelmente; mas, sobretudo, poéticas. Algumas, de força impressionante, como As Aves da Noite, durante a qual o leitor/espectador acompanha personagens famintos, trancafiados em uma cela em Auschwitz, à espera da morte. Raras vezes, porém, sua dramaturgia se realizou no palco. São peças desconhecidas e, portanto, pouco montadas.
Na antológica entrevista publicada no volume dedicado a ela dos Cadernos de Literatura, do Instituto Moreira Salles, cinco anos antes de morrer, Hilda diz que gostaria de ver o lançamento de sua obra completa. "Mas não sei se vou viver muito tempo, né?"
Não teve a chance. Seu Teatro Completo só agora é publicado, por iniciativa da Globo Livros. Mas, como se queixar da demora, quando publicações de literatura dramática são tão escassas no país?
Neste mês, pode-se comemorar a possibilidade de ter acesso a outra obra teatral, cem anos após a morte do seu autor: Artur Azevedo Melhor Teatro sai pela Global Editora, trazendo três peças selecionadas por Bárbara Heliodora: A Capital Federal, O Mambembe e O Genro de Muitas Sogras.
Vazio
Se já é difícil encontrar os textos dramatúrgicos de autores consagrados no passado, o que se dirá dos que produzem hoje? Experimente buscar em qualquer livraria da cidade um volume contendo A Refeição, de Newton Moreno, ou Por Elise, da dramaturga Grace Passô (para exemplificar com duas peças incansavelmente elogiadas nos últimos anos). Perda de tempo, não estão lá.
"Livros de peças teatrais têm público bastante restrito. Portanto, a editora costuma publicá-los quando fazem parte da obra completa de algum autor como Hilda Hilst e Oswald de Andrade ou por sua relevância canônica a exemplo de Púchkin e Chékov", justifica Joaci Pereira Furtado, coordenador editorial da Globo Livros, sem que sua explicação se restrinja à realidade desta editora. É uma prática geral.
"Acho que há uma dificuldade cultural em relação a esse gênero, que, por exemplo, acaba reduzindo o acesso dos jovens à produção dramatúrgica. As editoras e sistemas de ensino também não contribuem expressivamente para isso se modificar. O teatro e as coisas que dizem respeito a ele ainda são por demais elitizados e, quanto a isso, a culpa também é de nós artistas", opina Grace Passô, dramaturga, diretora e atriz do grupo mineiro Espanca!, indicada ao prêmio Shell deste ano pelo texto de Amores Surdos (a peça, de 2006, estreou tardiamente em São Paulo).
Ninguém esperaria que essa carência não tivesse consequências. "Se há menos espaço, essa arte se desenvolve menos veementemente. Acho também que, quando não partem de um texto, os artistas de teatro buscam o discurso em outro lugar, o que é muito bom. Mas, no caso daqueles que partem de textos publicados, as grandes referências dramatúrgicas vão se repetindo nas montagens, além dessas produções ficarem cada vez mais distantes de um discurso atualizado de nosso tempo. Enfim: os artistas de teatro que criam a partir de textos publicados vão se tornando menos contemporâneos", complementa Grace.
Newton Moreno, dramaturgo, diretor e ator da companhia paulista Os Fofos Encenam, e vencedor do Prêmio Shell 2007 pela autoria de As Centenárias, nota que o mercado editorial aos poucos se interessa mais por autores de teatro, "mas os contemporâneos ainda precisam se articular para transformar seus textos em potentes projetos editoriais". "Sei que, na Inglaterra, eles costumam vender o texto da peça no teatro. Este mecanismo, obviamente, divulga o espetáculo e o nome do dramaturgo. O teatro precisa recuperar terreno e a propagação de seus textos pode ser uma ferramenta poderosa neste sentido", diz.
É certo que pensar em uma dependência do teatro em relação ao texto soa anacrônico. "O texto de teatro, para mim, está reavaliando seus valores enquanto obra de arte. O teatro hoje não é somente textocentrista, nem necessariamente dramático. Há belíssimos textos sendo produzidos que têm maior valor nas salas de ensaio; ou belíssimos para serem publicados enquanto obra de arte autônoma; ou belíssimos para serem publicados enquanto registro de um espetáculo", observa Grace.
Moreno, no entanto, oferece o argumento crucial para que se lamente a dificuldade de se encontrar peças atuais (mas não somente) publicadas no país: a incontornável efemeridade do teatro. "Ainda que o texto só se complete na cena, sua publicação às vezes será o único registro do fenômeno teatral." A quem não viu, não resta nem ao menos ler e imaginar aquelas palavras materializadas à sua frente.
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