A cena na estante
Conheça os autores e suas 61 peças publicados na Coleção Primeiras Obras.
Marcos Damaceno - Água Revolta e Para Luís Melo. Apresentação: Roberto Alvim.
Ivam Cabral - Chove Muito Lá Fora; Uma Arquitetura para a Morte; Gérard, a Tragédia; e De Quem Sois?. Apresentação: Erika Riedel.
Sergio Roveri - A Coleira de Bóris; Não Contém Glúten; e Ensaio para um Adeus Inesperado. Apresentação: Otavio Frias Filho.
Vera de Sá - Caos; Romance; e O Homem-Poltrona. Apresentação: Jefferson del Rios.
Gabriela Mellão - Nijinsky; A História Dela; Parasita; Em Camadas; e Desolador. Apresentação: Alberto Guzik.
Otávio Martins - A Turba; Depois da Chuva; e Últimas Notícias de uma História Só. Apresentação: Silvana Garcia.
Sérgio Mello - Temporada de Caça; Aos Ossos que Tanto Doem no Inverno; Ladeira em Carrinhos de Supermercado; Explicando a Morte para Crianças de 6 Anos; e Summer. Apresentação: Mário Bortolotto.
Rudifran Pompeu - A Casa. Apresentação: Ivan Fornerón e Izabela Pimentel.
Lucianno Maza - A Memória dos Meninos; Carne Viva; No Meio do Caminho; Temporal; e Três T3mpos. Apresentação: Alcides Nogueira.
DramaMix - 30 peças apresentadas no DramaMix 2007 por Marta Góes, Renata Pallottini, Bráulio Mantovani, Contardo Calligaris, Gerald Thomas, Mário Bortolotto, Mário Viana e outros.
Por mais rebuliço que cause, quanto tempo dura na memória do público uma peça? Árvores Abatidas ou Para Luís Melo não causou pouco. Tanto pela atuação refinada de Rosana Stavis, que até de dotes de cantora lírica se valeu para acertar os ritmos e intenções do monólogo escrito pelo marido, Marcos Damaceno. Quanto pelo olhar ácido que o texto deita sobre certa estirpe de artistas curitibanos, tomados pela frustração e a autofagia. Ainda assim, encerrada a última temporada em Curitiba, e quando acabar a turnê que percorre de Porto Alegre a Macapá, pouca sobrevida poderia se esperar da peça.
Um fato pouco frequente no meio editorial brasileiro muda a situação desenhada acima: a publicação da peça, pela nascente Coleção Primeiras Obras, editada pela Imprensa Oficial do Estado de são Paulo. A performance de Rosana não está lá, é claro, mas o texto se perpetua no papel, se oferecendo à leitura e à remontagem. Em Curitiba ou em Macapá.
Que sirva de parâmetro a experiência prévia de Ivam Cabral, o organizador da coleção. Desde que sua peça Faz de Conta Que Tem Sol Lá Fora foi lançada em livro, em 2006, o dramaturgo e diretor dos Satyros já contabilizou 22 montagens por outros grupos, país afora. No dia em que conversou por telefone com a reportagem da Gazeta do Povo, da França, havia acabado de receber mais uma encomenda, por e-mail, vinda do interior paulistano.
Sabendo da diferença que faz à longevidade de uma peça, Ivam Cabral traçou os planos da coleção, e inaugurou o selo Satyros Literatura. São dez livros de bolso, somando 61 peças. Nove volumes foram dedicados individualmente a dramaturgos, em sua maior parte, nunca antes publicados. A exemplo de Damaceno e das jornalistas Gabriela Mellão e Vera de Sá, que dão suas versões para a falência dos casais respectivamente em A História Dela e Romance. Ou Rudifran Pompeu, nome obscuro, mas já premiado pela Associação Paulista de Críticos de Artes. Ivam Cabral e Sérgio Roveri (autor de A Coleira de Bóris) aparecem como "veteranos" na lista.
O décimo título, Dramamix, reúne uma miscelânia de peças curtas de Gerald Thomas a Renata Palottini. Leva o nome do evento dedicado à dramaturgia que acontece desde 2007 durante as Satyrianas, a maratona de 78 horas de encenações que a Praça Roosevelt, em São Paulo, sedia entre outubro e novembro.
O que Ivam Cabral queria, afinal, era registrar o momento de fervor artístico daquela região. Se não divisor de águas esteticamente (embora ele suspeite que sim), um marco no modo de produção teatral no país, com sessões de segunda a segunda em espaços lotados para 70 espectadores, em média.
Um curitibano
Marcos Damaceno foi o único curitibano escolhido para integrar a coleção, hegemonicamente paulistana. Suas passagens pelo Dramamix, com Sobre Tempos Fechados e Árvores Abatidas ou Para Luís Melo garantiram a vaga.
Os autores tiveram a palavra final na seleção de quais peças publicariam. Damaceno optou pela mais antiga e a mais recente: Águas Revoltas, escrita para a conclusão do curso de teatro na FAP, e Árvores Abatidas, composta em 2008 sob a inspiração do austríaco Thomas Bernhardt. Uma vez que a peça foi reescrita uma dúzia de vezes, se afastando do romance vienense que a batizara para se acercar da realidade curitibana, seu nome foi trocado: Para Luís Melo.
"O grande rebuliço e a polêmica em cima desse espetáculo se deu por ter colocado nomes (de artistas daqui). Muitas pessoas acharam que era ressentimento pessoal, mas muitos outros defenderam. O próprio Melo de forma alguma se sentiu ofendido", defende Damaceno. A chave para uma interpretação justa da peça está em não "comprar" a versão da protagonista. "Na verdade, ela é a única personagem autodestrutiva, a grande magoada. Para não se tornar como essa mulher, a gente tem que ouvi-la."
Água Revolta, mais subjetiva e abstrata, foi o espetáculo que juntou Damaceno e Rosana em 2003. "Reflete meu estado naquela época, perturbado e fragmentado. Eu estava virando praticamente um ermitão, indisposto ao convívio", recorda o autor.
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