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Espetáculo no Memorial de Curitiba: público esporádico nem sempre volta ao longo do ano | Daniel Castellano/Gazeta do Povo
Espetáculo no Memorial de Curitiba: público esporádico nem sempre volta ao longo do ano| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

Frequentados

Cia. Máscaras de Teatro e Antropofocus são exceções

Dois grupos que podem se considerar exceções, já que atraem público o ano todo, são a Cia. Máscaras de Teatro, do Lala Schneider, e o Antropofocus, que pesquisa o humor.

"Muitos lançam a culpa [de terem pouco público] no próprio público, dizem que é porque as pessoas não entendem suas peças. Mas mesmo os criadores mais elogiados sabem que às vezes dão o sangue e às vezes só dão sorte", opina o diretor do Antropofocus, Andrei Moschetto, que se apresentou ao longo do festival com Não Se Preocupe, É Apenas o Fim do Mundo.

Ele faz em toda apresentação um "controle de mentira", pedindo ao público que erga a mão para responder a algumas perguntas. Nessa estatística bruta, quando questionado se é a primeira vez que vê um espetáculo do grupo, muita gente levanta a mão – e depois a taxa de retorno à mesma peça é de 15 a 20%, segundo Andrei.

O diretor do Lala, João Luiz Fiani, conta que, durante o festival, seu público cresce cerca de 30%, e que, ao longo do ano, tem uma ocupação média de 80% da casa.

Se dependesse do público, ele teria de deixar em cartaz permanente sucessos como A Tarada do Boqueirão. "Quando quero ir, nunca está em temporada. Dizem que é excelente", conta o administrador Lucas da Silva, de 28 anos. "É difícil sair para ir ao teatro. Mas tem coisa boa sim."

Além deles, há grupos com muito público, mas segmentado, como todos os que se apresentam no Teatro Novelas Curitibanas e a Vigor Mortis, de Paulo Biscaia Filho.

"Faz tempo que Curitiba tem a cultura de ‘é hora de ir ao teatro’, que é no festival. Acho muito bom. Espero que, com a experiência, a pessoa volte ao longo do ano", deseja a produtora Michele Menezes.

Quando teve início esta 22.ª edição do Festival de Teatro de Curitiba, o diretor Leandro Knopfholz falou da importância do evento para a formação de público permanente na cidade. Por outro lado, é comum ouvir de grupos de teatro a reclamação de que o curitibano prestigia pouco os espetáculos locais.

Conversando com pessoas à espera do início de peças durante o festival, é possível perceber que a maioria realmente deixa para ir ao teatro ao longo do evento, mas gostaria de assistir a mais espetáculos no resto do ano.

Os principais motivos alegados para a baixa frequência são a falta de tempo, a prioridade dada a outros eventos sociais e o fato de não ficarem sabendo de "peças boas".

A funcionária pública Michelle Capelli levanta um ponto importante: o clima de festa que toma Curitiba durante o festival, quando muita gente encara a ida ao teatro como um programa anual a cumprir. "No festival tem mais opções, e a cidade fica voltada para isso", contou ela à reportagem, às portas do Guairinha, prestes a assistir a The Pillowman – O Homem Travesseiro.

"Não vamos por falta de tempo. Agora tirei férias e já fomos a duas peças de rua", conta Irene do Lago Westphal. "Acabamos tendo outros envolvimentos, principalmente com os netos... e devido ao custo, nem sempre é possível ir ao teatro."

Antes do início de Os Bem Intencionados, no Sesi/Cietep, alguns espectadores celebravam a possibilidade de ver o paulista grupo Lume em Curitiba. Segundo eles, fora do festival é mais difícil que companhias nacionalmente reconhecidas venham para temporadas específicas na cidade, o que também contribui para o esvaziamento dos teatros locais fora de evento.

Famosos

Tanto o público frequente de teatro quanto o esporádico de festival é identificado na hora da compra de ingressos para o evento. A oceanógrafa Raissa Nogueira, que há dois anos trabalha nas bilheterias do festival, conta que há três perfis de cliente. Aquele que sabe exatamente o que quer e chega com uma planilha de horário das peças a assistir; outro, que quer ajuda para escolher peças, e ainda um terceiro que tem um pouco de informação, mas quer saber mais dos atendentes.

"Acontece bastante de perguntarem qual peça tem ator da Globo, se tem algum famoso", conta.

A professora de Inglês da UFPR Eloise Grein foi a dez espetáculos neste festival e se considera frequentadora assídua ao longo do ano. "Tem gente que só vai durante o festival e em peça daqui! É burrada, dava para ver durante o resto do ano."

"Traumas"

Há ainda quem tenha interrompido sua carreira de espectador de teatro após um "trauma" – como o professor de Direito que esperava ver A Guerra de Troia – de dentro do cavalo, saíram atores nus que corriam por entre o público. Houve ainda um episódio em que atores urinavam no palco – instalado muito próximo do público, que afirmou ter recebido respingos.

A comerciária Liliane Lopes, de 29 anos, sofreu uma frustração ao ver cancelada a sessão de Chapeuzinho Vermelho no Teatro Cultura à qual levara a filha, há dois anos. As duas eram o único público que apareceu.

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