Quem conversa com Fernanda Caldas Fuchs não imagina que ela já abraçou Eugenio Barba – muita gente que tenha tido contato físico com alguém de menos calibre intelectual se gaba por aí. A atriz de 25 anos, porém, mantém-se low-profile quanto a suas realizações.
Além dessa oportunidade de fazer uma oficina com o criador da antropologia teatral – corrente pela qual o centro da experiência cênica são o próprio ator e seu corpo, e não o texto, a música ou a encenação –, ela tem obtido boa repercussão com seu primeiro trabalho solo, “Corrente Fria, Corrente Quente”. Foi premiada pelo texto, de sua autoria (em São Paulo, pela Sociedade Bunkyo) e pela atuação no espetáculo (no festival de Paranaguá).
Por meio de um edital da prefeitura de Curitiba, apresentou sua peça em várias regionais e conseguiu publicar o curto texto num encarte de arte bastante atraente. Depois de lançar um DVD com esse trabalho de estreia, a ideia agora é desenvolver e promover o mais recente, “O Homem de Okinawa” – de preferência, chegando à província japonesa que consta no título.
“Corrente Fria, Corrente Quente” fala de duas irmãs que esperam muito tempo que o pai retorne da pescaria, na ilha de Okinawa. A singeleza da escrita permite que transite entre várias idades.
É interessante ouvir de Fernanda a forma como seus interesses singelos foram se materializando em criações para o palco. A ligação com o Japão, que ela não tem nos genes, começou a tomar forma quando voltou ao seu primeiro grupo de teatro no Colégio Estadual, depois da faculdade: ela sentia falta do “espaço de experimentação” livre, coordenado por Hermison Nogueira.
“Ele me apresentou uma forma de fazer teatro, com referências no grupo Lume, de Campinas, e em Eugenio Barba”, elogia Fernanda, e está estabelecida a ligação com o italiano do começo desta reportagem.
“Corrente Fria, Corrente Quente”
O vídeo com duas apresentações diferentes da peça “Corrente Fria, Corrente Quente” pode ser encontrado em bibliotecas como a da Praça do Japão.
Em sintonia com o que vários grupos profissionais têm empreendido, a lição de Hermison era que cada integrante desenvolvesse um solo. A partir de trabalhos de corpo propostos em exercício, Fernanda se “descobriu” japonesa.
A ligação surgiu a partir da vida marítima e da tradição pesqueira nipônicas, que a lembraram das visitas ao trabalho do pai, no porto de Paranaguá. Algumas referências grudaram depois, como a xilogravura “A Grande Onda de Kanagawa”, e as correntes marítimas que trazem peixes para Okinawa.
A passagem pelo Núcleo de Dramaturgia do Sesi burilou o texto, e o bom relacionamento permitiu que o irmão, Franco Caldas Fuchs, a dirigisse para atuar na peça.
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