Ana Ferreira usa corpo e voz em novo trabalho solo.| Foto: Eli Firmeza/Divulgação

Em espetáculos como “Incêndio”, que estreia nesta sexta-feira (12) na Casa Hoffmann, o falatório prévio dificilmente permite imaginar algo próximo do que se verá efetivamente em cena (não confundir com “Incêndios”, que Marieta Severo trouxe ao Guairão).

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Esta performance coloca Ana Ferreira sozinha no palco, tão só que opera luz e som ela própria. “É uma forma de assumir a cena enquanto cena. Eu uso apenas corpo e voz”, conta a atriz. E durante uma hora ela usará muito as duas coisas, tecendo três temas.

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O primeiro trata do fogo enquanto signo mítico, representando a essência da vida ao mesmo tempo que a destruição. No segundo, a forma como a vida tende à morte serve de comparação com a efemeridade das artes cênicas, trabalhos apresentados ao vivo com uma existência concentrada em encontros passageiros com a plateia.

Incêndio

Casa Hoffmann (Largo da Ordem). 6ª a dom. às 20h, até 28/6. R$ 10 e R$ 5 . Classificação indicativa: 16 anos. Mais informações no Guia.

Por fim, uma história (baseada em fatos reais!) também integra o roteiro. Em “A Voz do Povo”, o poeta Hölderlin trata de uma aldeia que resiste à invasão romana. Quando seus habitantes percebem que serão pilhados, jogam-se ao fogo, preferindo a morte.

O uso dessas três formas de falar do fogo e da existência – três níveis narrativos – ela atribui a uma pesquisa com o “Finnegans Wake” de James Joyce, datado de 1939.

Tudo isso vira matéria sonora e corporal para Ana, que vem realizando trabalhos próximos à performances e ao espaço urbano.

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Em “Incêndio”, estão presentes a dança, o teatro e a performance, com alguns momentos coreografados e outros improvisados.

“Falo às vezes de forma direta, ou por meio de sugestões”, explica. Quer dizer que ela pode conversar com a plateia, diminuindo a distância entre artista e espectador, ou falar dela mesma em terceira pessoa. Em outros momentos, a voz surge em gravações.

“Me interessa o encanto que o espetáculo possa causar, mesmo que a pessoa não saiba por que se encanta”, garante. Quer dizer que ninguém precisa decodificar todos os elementos dos quais ela fala – e quando fala, percebe-se que sua pesquisa tem raízes profundas.

Mas o encantamento é mesmo aquilo que o bom teatro sabe proporcionar.