Considerada uma sumidade do teatro no país, a crítica Barbara Heliodora morreu na manhã desta sexta-feira (10), no Rio de Janeiro. Muita gente em Curitiba teve a oportunidade de conhecê-la, aprender com ela, e, o que era inevitável, ter seu espetáculo destruído por ela. Morreu no mês que marca o aniversário de nascimento e morte de Shakespeare (ambos dia 23), de quem era defensora apaixonada.
Durante várias edições do Festival de Teatro da cidade ela esteve presente, conhecendo artistas locais. Também veio quatro vezes ao evento Abril de Shakespeare, organizado pelo Solar do Rosário. Em 1991, Barbara [que acrescentou esse nome que tanto combinava com ela ao de batismo, Heliodora Carneiro de Mendonça] ministrou uma oficina na cidade destinada ao elenco do Hamlet produzido por Marcelo Marchioro. Giovana Soar fazia Ofélia, e relembra a generosidade com que a crítica dividia seu vasto conhecimento sobre Shakespeare. A tradução usada por eles foi, inclusive, a da mãe de Barbara, Anna Amélia.
“É uma mulher que tem uma dimensão única dentro da história do teatro brasileiro (...). Ninguém dominou profundamente como ela dominou toda essa herança shakespeariana, que, na verdade, é uma herança que definiu e criou o homem contemporâneo.”
Já a partir dos anos 2000, nas ocasiões em que a Companhia Brasileira de Teatro, de Giovana, Nadja Naira e Marcio Abreu se apresentou no Rio de Janeiro, a atriz conheceu o lado ferino da crítica. “Todo mundo partia do pressuposto de que a Barbara não gostaria do seu espetáculo. Daí se ela gostasse, era lucro”, brinca Giovana. Barbara assistiu a pelo menos quatro espetáculos do grupo: Volta ao Dia em Oitenta Mundos, Suíte 1, Isso te Interessa? e Esta Criança.
“Óbvio, foi uma pessoa que promoveu o pensamento teatral no país. Mas ela nunca falou coisa boa de mim”, diz o diretor Paulo Biscaia Filho. Em turnês cariocas de sua companhia Vigor Mortis, a crítica assistiu a Graphic, Hitchcock Blonde e Zéfiro. Já DCVXVI ela viu durante o Festival de 1999. “Nessa ela tinha razão. Era ruim mesmo”, brinca Biscaia.
Academia
Liana Leão, também shakespeariana, há poucas semanas acompanhou a amiga na revisão da tradução da obra completa de Shakespeare, quando Barbara estava “deitada, debilitada mas com atividade mental invejável, contando a métrica dos versos”. “Sua trajetória como crítica teatral, autora e tradutora de dezenas de livros sempre ofereceu ao público leitor e aos frequentadores do teatro uma oportunidade de aprofundamento e reflexão crítica”, escreveu para a Gazeta do Povo a professora Célia Arns de Miranda.
“Ela continuará sendo um dos principais pilares do teatro brasileiro, inclusive como professora que formou diversas gerações de críticos, professores e tradutores”, complementa a professora da Uniandrade Anna Stegh Camati.
“A Barbara foi uma mulher encantadora, que amava teatro. Ela era dura, mas o teatro não é lugar para pessoas frágeis. Ela era muito enfática. Conseguiu desafetos na carreira por isso. Eu nunca me incomodei. Mas quando gostava de uma peça, gostava muito. Ela não era careta, era uma mulher muito culta.”
O professor da UFPR Walter Lima Torres resumiu assim o trabalho acadêmico de Barbara, que também não era unânime: “Dona Bárbara foi uma das figuras que estiveram no centro da ação de renovação do teatro brasileiro, independentemente de tendências estéticas, autores e artistas. Como tradutora, não nos deu a conhecer somente a obra completa de Shakespeare, mas inúmeros outros autores de língua inglesa, como Thorton Wilder, Harold Pinter e Edward Albee. Foi uma grande formadora de opinião no âmbito teatral e integrava uma corrente ideológica que via no teatro inglês a solução para todos os males do teatro brasileiro. Nesse sentido, suas opiniões sobre a prática e a vida teatral eram partilhadas com alguns de seus colegas de geração, como Paschoal Carlos Magno, Sergio Viotti, Roberto de Cleto, Paulo Francis entre outros. Ultimamente, no exercício de sua crítica opinativa, ela não esquecia de manifestar o seu gosto e nesse sentido, percebia-se, claramente, o descompasso entre o teatro contemporâneo e os cânones que orientavam o espírito analítico e criativo da nossa grande dama.”
Foi o Solar do Rosário, de Curitiba, quem lançou e conseguiu a publicação pela editora Perspectiva de uma das últimas publicações de Barbara, Caminhos do Teatro Ocidental. A diretora do Solar, Regina Casillo, salienta uma curiosidade sobre os gostos da crítica: nem só de Shakespeare vivia Barbara. Numa visita, constatou que a dama era fã do Fluminense, acompanhando com interesse os jogos do time em que jogou seu pai, Marcos Carneiro de Mendonça.
Congresso prepara reação à decisão de Dino que suspendeu pagamento de emendas parlamentares
O presente do Conanda aos abortistas
Governo publica indulto natalino sem perdão aos presos do 8/1 e por abuso de autoridade
Após operação da PF, União Brasil deixa para 2025 decisão sobre liderança do partido na Câmara
Deixe sua opinião