Malabarismo e cenas urbanas.| Foto: Elenize Dezgeniski/DIvulgação

Quando um espetáculo é montado para exibir alguma técnica, corre-se o risco de ver em cena exatamente isso, exibição. Não é o caso de “Circo Urbano”, espetáculo em que existe um pensamento unificador, ainda que algumas cenas resultem mais integradas a ele do que outras.

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Circo com narrativa urbana

Espetáculo que estreia neste sábado (22) no Vila Hauer Cultural integra técnicas circenses com crítica à loucura da cidade grande

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O tema do cotidiano na cidade grande não é algo inusitado, mas novas perspectivas sobre ele são bem-vindas. De início, a escolha pelo ato de ninar um bebê, com toda a ternura e o cansaço associados às madrugadas, nos leva para dentro do universo doméstico, como que lembrando: aquela pessoa de cara fechada na rua pode ter bons motivos para isso. Ações repetidas como numa coreografia aproximam o show da dança contemporânea nos melhores momentos da encenação, quando todos estão no palco e simulam a rápida marcha da multidão pelas ruas ou o tenso balanço dentro do ônibus.

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Em rápidas esquetes, os atores circenses utilizam símbolos urbanos para mostrar sua arte, fazendo malabarismo com cones sinalizadores, andando na corda bamba com o rosto coberto como um black-bloc, simulando a fragilidade do artista de rua sob um semáforo. O ritmo colocado pelo diretor Rafael Camargo faz alternar cenas de palhaço com a típica toada alegre a momentos tensos no trapézio ou lira. Na melhor das interações entre o tema e a cena, duas executivas de coque, camisa, óculos e, pasme, salto alto, sobem pelo tecido acrobático e ali fazem seus movimentos. A constante troca de figurino e adereços revela outro ponto positivo, que é a generosidade e ausência de preguiça criativa. Sente-se falta somente de uma maior integração do argumento às cenas, de algum tipo de transformação ao longo da narrativa.