Recriar em palavras e movimentos do corpo todo o universo do escritor japonês Haruki Murakami, 67 anos, sem nunca citar sua obra: é esse o desafio a que se propõe “Murakami: O Leitor de Sonhos”, em cartaz no Sesc Ginástico, no Rio, até o próximo domingo (31).
A peça narra em dança e diálogos o processo de reflexão de um homem que acredita ter a vida sob controle, mas percebe que é sempre abandonado pelas mulheres que ama.
“Murakami” não faz referências diretas a livros do autor japonês, mas quer retratar temas e tipos recorrentes na literatura dele, que é o eterno vice do Prêmio Nobel -todo ano aparece como um dos favoritos, mas nunca levou o título.
“O que me interessava era a proximidade entre o fantástico e a realidade, uma constante nos livros dele -esse lugar de incertezas e buscas onde as respostas não são claras. São rasgos dentro da obra, sem ser literal, mas fiel ao espírito”, diz Regina Miranda, que assina texto, coreografia e direção.
Em “Murakami: O Leitor de Sonhos”, o homem perplexo é vivido por Fabiano Nunes. Marina Salomon, Marina Magalhaes, Adriana Bonfatti, Ana Bevilaqua e Julia Gil fazem o papel das mulheres.
“A função delas é aguçar nele diferentes visões sobre si mesmo. O próprio Murakami diz ter muito isso de viver numa constante tentativa de autocompreensão”, diz Miranda.
Sesc Ginástico (Av. Graça Aranha, 187), (21) 2279-4027. Dias 27 a 31 de janeiro, às 19 horas. Ingresso: R$ 5 a R$ 20. 16 anos.
Misturando coreografia e diálogo, o espetáculo é um híbrido de teatro e dança.
Não por acaso a companhia que o montou se chama Regina Miranda & AtoresBailarinos. Miranda chama o gênero de teatro coreográfico: “O texto é o ponto de partida da ação. Há um encadeamento dramatúrgico do qual a dança faz parte”.
Outra peça-espetáculo, mais poética e sem um enredo claro, abre para “Murakami”: “Medo e Prazer em Sintonia”. Essa Miranda descreve como teatro-dança.
“A dança conduz o espetáculo. A palavra está junto, mas o encadeamento é dado pelo movimento”, diz ela, que também assina texto, direção e coreografia.
A coreógrafa, que há 15 anos atua entre o Rio de Janeiro e Nova York, pretende levar a dobradinha para os EUA. Ainda não sabe se será encenada em São Paulo.
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