O Festival de Teatro de Curitiba chega à sua 25ª edição nesta quarta-feira (23), quando, por duas semanas, os teatros da cidade ficarão lotados com mais de 300 produções do país e algumas internacionais. O Caderno G selecionou quatro personalidades do teatro curitibano que estão envolvidas em importantes estreias locais – conheça um pouco da história delas.
A abertura do Festival, maior do país em número de atrações, acontece nesta terça (22), para convidados, com o show “Bethânia e as palavras”, no Guairão. É bom lembrar que os demais espetáculos originalmente marcados para o grande auditório do Guaíra foram transferidos para a Ópera de Arame, e os do Guairinha, para o Teatro da Reitoria, com exceção de “La Cena”, do balé Guaíra G2.
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Quase todas as 35 peças da mostra principal ainda têm ingressos (R$ 70 a inteira, mais taxa). Estão esgotadas apenas “Caranguejo Overdrive”, “Um bonde chamado desejo”, “Cabras” e “Fim de jogo”. Houve ainda o cancelamento de “Cidade vodu”.
Michelle Pucci, atriz
A atriz de 38 anos ficou um tempo fora de cena, cursando Letras na UFPR. Mas a entressafra serviu para que ela se aprofundasse em um dos escritores mais importantes do Paraná. Seu interesse por Manoel Carlos Karam (1947-2007) surgiu em 2006 num grupo de estudos ao lado de Nadja Naira e Luiz Felipe Leprevost, e agora voltou com força total. Tendo dedicado sua monografia a esse autor sagaz e irônico, Michelle ressurge neste Festival no espetáculo “A cidade sem mar”, calcado em textos de Karam. “Ele era mestre em dizer coisas sérias de maneira irônica, em ‘dizer sem dizer’. Ele escreveu e apresentou peças durante o período da ditadura porque sabia brincar com as palavras e criar anedotas sobre o que ele observava do mundo”, contou Michelle à Gazeta do Povo.
A atriz vem ao lado da Companhia Brasileira de Teatro, nosso grupo mais premiado do momento, e com outros cinco atores em cena. “É uma alegria dupla”, define. No processo, ela conta estar tendo mais voz do que normalmente ocorre em outros grupos, podendo trazer suas contribuições à vontade. A direção é de Nadja e Giovana Soar, mas é muito pouco que elas aceitam revelar sobre a estreia, que ocorre na segunda-feira (28) com reprise na terça, sempre às 20h e 23h, no Guairacá Cultural.
Ana Rosa Tezza, diretora
O tempo passado com integrantes do prestigiado Théâtre du Soleil, de Paris, influenciou profundamente o trabalho de Ana Rosa Tezza. Primeiro como atriz, e agora como diretora de seu espaço Ave Lola, no bairro São Francisco. Por exemplo, é impossível que você visite o teatro ou vá a alguma das peças da casa sem sair de barriga cheia – a união entre arte e alimento é uma marca da trupe de Ariane Mnouchkine. Ana Rosa abraçou o trabalho de direção em 2011, e desde então chamou a atenção da crítica local e nacional com os espetáculos montados: “O malefício da mariposa”, baseado na peça de García Lorca e “Tchekhov”, a partir da vida e da obra do escritor russo. Venceu vários prêmios Gralha Azul e conseguiu circular por outras cidades com as peças. De 29 de março a 3 de abril, ela estreia no Festival seu novo trabalho, “Nuon”, baseado nos assassinatos em massa do regime Khmer Vermelho cambojano (que perdurou de 1975 e 1979) e na ativista Phaly Nuon, que se dedicou a salvar outras mulheres dos traumas físicos e emocionais da guerra. “O teatro tem a capacidade de trazer essa reflexão de forma única, com poesia e delicadeza, mas sem minimizar a relevância histórica dos fatos”, diz Ana, que também assina o texto da peça.
Beto Bruel, iluminador
Se encontrar essa figura curitibana, não deixe de pedir que ele conte como se tornou iluminador cênico: teria sido tudo um acaso, para ajudar amigos do Colégio Estadual. Nesses 50 anos de carreira, a curiosidade e o empenho de Beto Bruel o tornaram um dos maiores profissionais do Brasil em sua área. Ao lado do diretor Felipe Hirsch, com quem trabalha desde o começo dos anos 1990, recebeu o Prêmio Shell por “Avenida Dropsie” (2005) e “Não Sobre o Amor” (2008). No ano passado, recebeu seu quinto Shell, por “Não Vejo Moscou da Janela do Meu Quarto”, honraria que soma a inúmeros troféus Gralha Azul e até uma medalha de ouro na Coreia do Sul durante o Wolrd Stage Design.
Neste ano, à frente de sua empresa de iluminação Tamanduá, ele participa como criador do desenho da luz de várias montagens que estreiam no Festival – só desta página, são dois espetáculos: “Nuon” e “Iliadahomero”. É preciso destacar que, no caso do clássico grego, cada um dos 24 monólogos é composto por até uma centena de trocas de luz, já que cada um dos personagens é caracterizado por holofotes azuis, vermelhos ou brancos, em formatos e ângulos diferentes.
Octavio Camargo, compositor
Faz mais de dez anos que o músico e diretor de teatro Octavio Camargo “lida” com o catatau que é a “Ilíada” de Homero. Foi encantando um ator aqui, outro ali a decorar cantos da obra, que duram cerca de 40 minutos, sob sua direção. E aos poucos chega à marca dos 24 cantos que compõem o clássico, na tradução bem-feita de Manuel Odorico Mendes. Desse total, os últimos 10 estreiam durante o Festival. Serão apresentados todos a partir desta quinta-feira (24), indo até dia 31, sempre na Sala Londrina do Memorial de Curitiba. A cereja do bolo será uma maratona de encenações corridas, das 12h às 24h dias 2 e 3 de abril, com uma hora para cada canto. “As récitas eram feitas de forma corrida na Grécia”, justifica Camargo.
E segue o intento de levar tudo para a Grécia durante as Olimpíadas do Rio de Janeiro – mas essa coroação final ainda depende de patrocínio. O sucesso do projeto, que foi ganhando visibilidade nacional e neste Festival atraiu o crítico Patrick Pessoa, do Rio, para a realização de um debate no dia 1º, está na simplicidade da proposta. Todos os cantos são feitos em formato de monólogo, com o ator trajado de preto no centro do palco e liberdade para interpretar seu trecho da Guerra de Tróia.
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