Há três anos, Lane Moore, uma escritora e comediante de Nova York, chegou em casa e encontrou seus colegas de apartamento usando o Tinder. Moore ficou tão curiosa com o aplicativo de relacionamentos do qual todos estavam falando que fez o download e começou a gravar um vídeo dos colegas enquanto o usavam. Teve então um clique: “isso seria o melhor programa de comédia. Eu poderia ficar lá, com uma tela, e entrar no Tinder, ao vivo e na frente de todos. Isso poderia ser muito interativo”.
Pouco tempo depois, nasceu o “Tinder Live”, um programa de comédia em que ela projeta os perfis do Tinder na frente de uma audiência e comentaristas a ajudam a dissecar os candidatos antes de jogá-los para esquerda (não) ou direita (sim).
Nesta entrevista, Moore fala sobre o potencial cômico do Tinder e sobre o porquê de pessoas casadas gostarem tanto de aplicativos de relacionamento.
Por que é tão engraçado usar o Tinder com um grupo?
Moore: Isso é algo que todos fazem até certo ponto. Você se junta com amigos e diz “me ajudem a olhar o Tinder”. Ficar vendo o Tinder ou qualquer outro aplicativo de relacionamento sozinho pode ser desanimador. Nesses aplicativos, as pessoas podem ser falsas ou rudes. Muitos caras vão gritar com você antes mesmo de você ter falado alguma coisa. No perfil deles, dizem: “veja bem, se você for algo dessas coisas (gorda, feia, uma stripper), nem me mande uma mensagem”. E você fica: “COMO? Como eles já estão brigando”?
Quando você encontra alguém assim, você o descarta imediatamente? Qual é sua reação?
Moore: No programa, essas são as pessoas que eu aceito. Existe uma parte de mim que tem empatia com eles. Eu entendo o que leva alguém ao ponto de dizer no perfil: “aqui tem uma lista das coisas que eu não quero mais ver”. Eu já fiz isso, todos nós fazemos isso. E eu sempre digo para o público: “vejam, eu sei que vocês querem que eu encontre o amor e isso é incrível, mas nós não queremos falar com os caras que parecem muito incríveis”. Nós queremos falar com os caras que dizem “se você é uma feminista, jogue para a esquerda”. E eu jogo ele para a direita.
Por quê?
Moore: É muito mais divertido. Eu fiz isso uma vez com um cara do tipo “sem feministas, nunca”. E então… eu joguei para a direita e deu match. Eu criei uma personagem no palco que era muito bêbada, meio idiota e um pouco insana. Dizia coisas como: “Meu Deus, eu quero muito sair com você, mas no momento estou morando em um bar e presa na floresta. Mas me dê um minuto que podemos super sair”. E os caras continuam conversando com ela. E achei um jeito engraçado de explorar a questão feminista. Eu disse: “hey, eu vi seu perfil. Primeiro de tudo: o que é fermeninista”? Assim, com erro de digitação mesmo. “Eu ouvi falar sobre isso, mas fiquei tipo o que é isso? Parece tão estranho hahahaha”. Então ele respondeu: “você está falando sério”? E eu disse: “claro. Eu ouço essas mulheres dizendo isto e fico meio FIQUE CALMA”. Então ele disse: “uma feminista é alguém que acredita na igualdade entre os gêneros”. E continuou: “Elas acreditam que os gêneros deveriam ser iguais”. E eu respondi: “ah, então ficção científica e horror deveriam ser iguais? Eu acho que não sou feminista, eu gosto bem mais de horror”.
Que tipo de fotos você tem no seu perfil do Tinder e o que sua descrição diz?
Moore: Minha descrição não diz nada na realidade. É só uma série de emojis estranhos, que são o fundamento do programa. Eu com frequência mando uma mensagem para o cara que diz algo como “e aí, tudo bem? Eu sei mesmo fazer coisas na cama”. E então mando para ele alguns emojis: uma ambulância, uma faca, uma igreja, nove crianças. Nove em cada dez vezes, o cara surta: “estou dentro! Uma faca, nove crianças. Um sanduíche de presunto, claro - essa menina é incrível”. Eu sempre tentava ser inteligente e engraçada, começando conversas… e na realidade senti que isso não é o que a maioria das pessoas do Tinder querem. Então fiz uma teoria que se eu fosse e dissesse “eu amo beber. Moro num telhado. E aqui está uma faca e uma pizza (emojis)”... os caras diriam “sim”. E é verdade de certa forma.
E por que você acha que isso acontece?
Moore: Não são todos os caras. Mas existe muita gente nesses aplicativos que são tipo “eu não me importo. Eu só quero ficar com uma pessoa. Só quero me dar bem com qualquer uma”. E não tem nada de errado em querer essa situação. Mas eu acredito que a maioria de nós quer algo mais das relações.
Você já recebeu no programa algum casal que se conheceu pelo Tinder?
Moore: Existem os primeiros encontros do Tinder e existem os casais que se conheceram no Tinder. Eu amo essas pessoas. Quase todo mundo está em um desses aplicativos, e meio que passamos por isso sozinhos. Participar do programa é uma experiência compartilhada muito legal, as pessoas se sentem menos sozinhas.
Na sua opinião, por que pessoas casadas gostam tanto do Tinder?
Moore: Eu acho que quando você está com alguém por muito tempo ou está casado é fácil começar a se perguntar: ser solteiro é melhor? Será que sinto falta de ser solteiro? Muitas pessoas vão no programa e dizem “não”.
Eu estou ótima.
Moore: Certo. E acho que isso é incrível.
O que você procura nos participantes do programa?
Moore: A primeira coisa que procuro nos comentadores é, estranhamente, empatia. Eu não convido pessoas que vão tirar sarro da aparência de alguém ou de outros aspectos superficiais. É muito fácil para esse programa se tornar algo como “esse cara não dá. Ele é tão feio”. E o programa não é sobre isso.
É difícil deixar a empatia engraçada?
Moore: Não. Eu sou muito boa nisso - e as pessoas que vão no programa são boas nisso - dizendo coisas como: “Esse cara juntou seis fotos no Photoshop porque ele não conseguia escolher uma, e ele gastou tempo editando”. Isso é muito mais interessante e muito mais engraçado do que um comentário descartável sobre o quanto você acha alguém feio.
Você já viu muitos perfis do Tinder. Quais são os maiores erros das pessoas?
Moore: Existem muitos segmentos do programa que falam especificamente sobre os maiores erros. Um deles é o “talvez esse seja meu filho”. Você não pode colocar um bebê ali, porque eu vou achar que você teve um filho com sua esposa recentemente e que você está a traindo. Apenas explique. Existe também um jogo com o público chamado: qual deles é? Isso acontece quando você tem uma foto… com dez pessoas e você nem consegue saber com quem está tentando fazer sexo. Às vezes não tem nenhuma foto individual. Existe outro segmento que chamo de “mulheres deixam que eu as toque” - quando os caras abraçam muitas mulheres. Talvez você quer mostrar que meninas bonitas te acham atraente, ou que você tem amigas gostosas… mas você não quer introduzir uma competição. O que as mulheres vão achar é isso: você está envolvido com essas mulheres? Você vai me comparar com elas?
E quais são as coisas legais de fazer?
Moore: Eu adoro quando os homens colocam no perfil ou “não estou procurando nada sério” ou “sem ficadas”. Existe uma má interpretação de que o Tinder só funciona para pessoas procurando casos, mas isso não é verdade. Mas pode demorar muito tempo até entender o que uma pessoa está buscando.
Existem outros aplicativos além do Tinder que te chamam atenção?
Moore: Existe um que gosto muito chamado DragonFruit. É para nerds conhecerem outros nerds. Eu gosto muito da ideia. E adoro a ideia de que estamos num boom de aplicativos de namoro. Porque é tanto material para eu usar nos programas, claro, mas também porque se conectar mais com o mundo é algo que precisamos, especialmente agora.
O presidente novo é frequentemente mencionado nos perfis. Do que você viu, existe um efeito Donald Trump no Tinder?
Moore: Eu estou em Nova York, onde até temos alguns eleitores de Trump, mas é mais raro que eles coloquem isso no perfil, já que é um estado tão democrata. Então não vi isso acontecendo muito aqui. Mas considerando que é algo que está polarizando o país nesse momento, isso acaba agindo de uma maneira muito similar com o “não procuro só ficadas” e o “só ficadas”. Fala de uma vez só o que a pessoa procura. As crenças políticas das pessoas estão mais fortes do que nunca. Pode ser algo que imediatamente junta ou repele duas pessoas.
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