Embora o grande público esteja mais acostumado a reverenciar o talento de Elizabeth Savalla em papéis marcantes na TV como Malvina, em “Gabriela” (1975), Lili, de “O Astro” (1977), Jezebell, de “Chocolate Com Pimenta” (2003), ou mais recentemente como Dona Boca de Fogo (ou melhor, Dona Cunegundes), na novela “Êta Mundo Bom”, desde seu primeiro papel nos palcos – na peça “Tribobó City” – a atriz nunca abandonou o teatro, como ela mesma faz questão de salientar.
Prova disso é que vem novamente a Curitiba com a peça “A.M.A.D.A.S. - Associação das Mulheres que Acordam Despencadas”, com direção de Luiz Arthur Nunes, que estreia no palco do Guairinha, neste sábado (3).
A montagem é uma sátira aos padrões estéticos e sociais que são impostos à mulher contemporânea. Nesse contexto, Savalla dá vida às angústias de Regina Antônia, uma mulher de meia idade com um olhar arguto e humor histriônico sobre temáticas do universo feminino que vão desde o culto à aparência até o cotidiano do casamento dentro da classe média.
Confira a entrevista com a atriz:
Atualmente os debates estão cada vez mais diversos e acalorados em nossa sociedade. Qual a importância de se evidenciar temáticas femininas neste contexto, como você faz na peça?
No teatro a gente discute as relações, a gente discute o que nos oprime, o dia a dia, enfim, cada espetáculo tem a sua temática. A “Amadas” é isso. Uma comédia, com a função principal de fazer as pessoas rirem e pensarem sobre essa loucura de estarmos todos obrigados a fazer muita ginástica, ser magra e bonita, muitas vezes fazendo uso de botox, cirurgia plástica, em uma ditadura na qual aqueles que estão fora do padrão são esquecidos. Na verdade, o ser humano não tem padrão. Cada um oferece o que tem como “ser”. A peça fala sobre isso com a leveza da comédia.
A.M.A.D.A.S. - Associação das Mulheres que Acordam Despencadas
Local: Guairinha - Auditório Salvador de Ferrante (R. XV de Novembro, 971 - Centro)
Data:
03/09/2016, às 21h
04/09/2016, às 19h
Ingressos: R$ 90 (½ entrada: R$ 45)
A que você acha que se deve esse culto ao corpo?
Isso tem muito a ver com a moda. Também hoje as pessoas estão muito preocupadas consigo mesmas. Poucos têm paciência para ler o que os outros pensam. Aí a pessoa escreve uma carta e ficam todos embasbacados, correm para a rede social. Na verdade é tudo muito particular, muito solitário. As pessoas vão à academia – eu odeio academia – e ficam absortas em sua série particular sem nem mesmo olhar para os lados, com fones de ouvido, sem saber o que o outro está pensando ou sentindo. Cada vez mais o homem está preocupado consigo, esquecendo o sentido do social, das práticas de boa convivência com o próximo (dizer “obrigado”, “Bom dia”, ceder o lugar a um idoso), tudo isso está acabando.
Apesar de a personagem Antônia ser uma mulher de meia idade, essas pressões todas que você comentou não são construídas durante toda a vida da mulher?
Tanto para mulheres quanto para homens. Ambos hoje sentem uma pressão muito séria da sociedade, desse culto à forma física. Os homens aprendem que tem de ser fortes, sarados, com tanquinho. Todos com barbas... Todos são iguais assim como carimbos e o que difere é visto como o “problemático”. Será que os iguais é que não são os problemáticos? A vida inteira somos todos cobrados por padrões como o das modelos, mas a realidade não é essa, nós vivemos, nós comemos e... Graças a Deus!
Tem algo de você refletida no personagem?
Todo o personagem que a gente faz, seja teatro, TV ou cinema sempre tem um pouco do ator. A gente leva coisas do personagem para a sua vida e traz coisas nossas para o personagem, é uma simbiose.
A questão da idade incomoda você pessoalmente?
É inevitável, a idade existe e ela vai chegando. Você tem quinze e sonha em ter dezoito, as pessoas sempre projetam coisas para o futuro. A questão é curtir o que cada idade tem de bom. Faz parte de cada idade ter coisas boas e ruins, o jeito é encará-la e estar satisfeito com ela.
“A idade existe e ela vai chegando. Você tem quinze e sonha em ter dezoito, as pessoas sempre projetam coisas para o futuro. A questão é curtir o que cada idade tem de bom. Faz parte de cada idade ter coisas boas e ruins, o jeito é encará-la e estar satisfeito com ela.”
Todos esses são temas delicados. Porque a escolha pela comédia para tratar deles?
Eu prefiro sempre o riso do que o choro. Sou uma pessoa mais solar, gosto da alegria das pessoas. Penso no lado positivo até de dias frios, com a chuva que faz bem para a terra, para as plantas. Por isso eu sempre prefiro o humor como forma de comunicar, como atriz e como pessoa, se eu puder falar de um tema que faça com que as pessoas riam, vou preferir isso a fazer com que as pessoas chorem. Basta você ligar a televisão ou abrir o jornal para perceber que só tem tristeza. Aí você faz uma novela como “Êta Mundo Bom”, que é leve, que fala dos sentimentos mais puros do homem, mostra a relação com a mata, fazenda, com os animais você descobre uma volta a nós mesmos e que podemos ser alegres, felizes. Talvez seja o que explique o maior ibope da emissora.
Aproveitando o gancho da novela, como é transitar entre essas diferentes linguagens, teatro e televisão?
Eu faço 43 anos de profissão e 42 anos de TV Globo e não há tanta diferença assim. Eu sempre transitei. No teatro você tem a resposta direta do público, enquanto na televisão a gente tem de sair na rua para sentir essa dimensão, saber o que as pessoas estão pensando. No processo, na feitura do personagem, no entanto, acho que é igual. Em todas as mídias onde você atuar a questão é fazer com verdade, essa é a palavra-chave. Você tem de encontrar essa verdade dentro de você.
Qual a expectativa em relação à apresentação em Curitiba?
Curitiba é uma cidade muito gostosa, eu adoro. Ao mesmo tempo urbana e com muitos restaurantes especiais que eu adoro. O público curitibano é um público também maravilhoso, que adora teatro. Então, com certeza vamos ter um bom final de semana de espetáculo.
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