Com apresentações do espetáculo “A Loucura de Isabella”, adaptação inédita do canovaccio (espécie de roteiro) de Flaminio Scala, um dos principais artistas do teatro renascentista, o grupo Arte da Comédia celebra uma década em solo curitibano como uma das principais referências da commedia dell’arte no Brasil. A peça, que ocupa a frente do prédio da UFPR, na Praça Santos Andrade, todas as tardes até sábado (3), teve em média 130 pessoas por apresentação na temporada que começou no início de novembro. A apresentação nesta sexta é às 18h enquanto a de sábado é às 17h.
Em 2005, seu fundador, o diretor artístico Roberto Innocente, chegou a Curitiba para comandar uma ópera no Guairão, a “La Bohème”. Engenhoso, o italiano driblou a falta de recursos para criar legendas em português para o espetáculo: produziu apresentações no formato de teatro popular que explicavam o tema da ópera antes de seu início. Foi um sucesso.
Na Itália, Innocente havia trabalhado com os dramaturgos Dario Fo (morto em outubro deste ano) e Carlo Boso. Ou seja, a pesquisa sobre a comédia já vinha sendo realizada há muito. Quando decidiu se estabelecer na cidade, seu conhecimento em commedia dell’arte, saltou aos olhos dos atores curitibanos que até então tinham poucas oportunidades de estudar o gênero mais profundamente.
A Loucura de Isabella
últimas apresentações: sexta (2), às 18h e sábado (3), às 17h
As oficinas lotadas deram lugar ao projeto de pesquisa que adaptava a linguagem para a realidade brasileira. Surgia o Arte da Comédia, grupo pelo qual já passaram mais de 50 atores e hoje reúne uma turma que mescla veteranos e iniciantes de bastante potencial.
Joseane Berenda, que interpreta a Isabella do título, sempre se preocupou com o aspecto social que a profissão de atriz tem. “A commedia dell’arte não é só para a elite, é para quem está no local naquela hora. Fazemos para quem passa, para moradores de rua, para quem interage e para quem vai embora depois de algum tempo”, afirma a protagonista.
Os sons e personagens reais da cidade são parte do espetáculo de rua - e não uma interrupção, como seria encarado em um palco tradicional. Os atores estão preparados para isso, o que exige concentração extra, como conta Joseane. “É um desafio, porque os ônibus passando, pessoas gritando ou falando com os atores no meio da apresentação são parte do espetáculo quando você está na rua”, diz a atriz.
A história
O trabalho de Roberto Innocente na adaptação do grupo A Arte da Comédia para “A Loucura de Isabella” não foi apenas de tradução. Ao lado do elenco, trabalhou o canovaccio até descobrir uma relação com o Brasil. “Fizemos uma ligação com o mundo original brasileiro. Aqui, Isabella é uma indígena casada que se apaixona por um jovem rico e descobre os sentidos que a palavra e os valores humanos têm. A gente sentia que era importante falar disso neste momento”, diz o diretor.
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