Obra passeia pela carreira de Marília Pêra, que começou quando ela tinha 4 anos.| Foto: Divulgação

A fotobiografia de Marília Pêra (1943-2015) estava pronta para ser lançada quando ela teve uma piora em seu quadro de saúde.

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Ela morreu no dia 5 de dezembro passado, aos 72 anos. É por isso que o livro “Marília Soares Marzullo Pêra” sai agora sem qualquer menção à sua morte por câncer.

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As 300 páginas em capa dura impressionam pelo apanhado que fazem não só da extensa carreira da atriz, iniciada aos 4 anos, mas também de ambos ramos de sua família de artistas, os Pêra e os Marzullo (razão pela qual ela quis ver o sobrenome da mãe Dinorah na capa, apesar de não constar em seus documentos).

Além das fotos que acompanham a trajetória de bailarina, atriz e diretora, há reproduções de cartas e pequenos bilhetes significativos que ela guardou a vida toda.

A irmã Sandra, também atriz, se ocupou de reunir todo esse material na intenção inicial de criar um álbum da família para mostrar às visitas. O projeto logo se mostrou grande demais para ficar sobre a mesa de centro – ainda mais quando Marília viu a fotobiografia da escritora Nélida Piñon e se encantou com o formato.

O material guardado com carinho pela família da atriz, cujas origens artísticas remontam ao século 19 em Portugal e na Itália, se revelou ótima fonte para a produção de um livro semelhante.

Homenagem

Uma legenda do livro chama a atenção: em 1992, o Teatro da Barra, no Rio de Janeiro, manifestou desejo de mudar seu nome para Marília Pêra. Ela recusou, sugerindo que o nome de seu pai, Manoel Pêra, fosse escolhido. Não deu certo. Anos depois, uma das salas do Teatro do Leblon levou seu nome, ao lado do auditório Fernanda Montenegro.

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A dosagem entre fotos antigas e mais recentes é feita de maneira bastante equilibrada. Ela nos assusta com seu batismo de fogo, interpretando a filha de Medeia na tragédia grega que acaba em infanticídio – aos 7 anos, Marília viajava com os atores e dava as instruções ao ator mirim que interpretava seu irmão a cada cidade.

A estreia oficial foi aos 21 anos, em “Como vencer na vida sem fazer força”, com Procópio Ferreira.

A carreira ininterrupta a levou a experimentar todos os avanços da dramaturgia, com o início da televisão nos anos 1950, em que ela fazia de quadros dançados a anúncios de produto. Ao todo foram 50 peças, quase 30 filmes e cerca de 40 novelas.

O prêmio da Sociedade de Críticos de Cinema dos EUA em 1982, reproduzido em reportagem do jornal “A Tarde”, celebra a repercussão de seu papel em “Pixote – a lei do mais fraco”, de Hector Babenco. O ator homenageado naquele ano foi Burt Lancaster.

Questionada se esse é um dos papéis da irmã de que mais gosta, Sandra respondeu à Gazeta do Povo, por telefone, que essa é uma visão do público, enquanto a dela, de familiar, é de admiradora atávica – 12 anos mais nova, Sandra não perdia uma noite de estreia da irmã, assim como o pai, fiel admirador.

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Entre outros papéis no cinema, ela atuou ao lado de Fernanda Montenegro em “Central do Brasil” (1997).

Livro

“Marília Soares Marzullo Pêra”

Arte Ensaio. 304 pp., R$ 70.