O inusitado da peça SPon SPoff Spend estava na plateia. Além do público tradicional, o teatro Bom Jesus recebeu, na noite de quarta-feira (25), 14 moradores de rua de Curitiba. Eles foram prestigiar a apresentação que tratava, justamente, sobre o universo dos mendigos.
Os “convidados” ocupavam as duas primeiras fileiras. Parte do público que estava nas cadeiras próximas acabou trocando de lugar. Quem levou os homens ao teatro foi a estudante de Artes Cênicas da Faculdade Artes do Paraná (FAP), Julia de Campos Moura. A ideia surgiu com a leitura do livro O Caos. O autor, Hakin Bey, defende que, “em potencial, todos nós somos algum tipo de artista”.
Julia quis descobrir a potência artística dos moradores de rua, e entrou em contato com a produção do Festival de Curitiba para conseguir acesso gratuito ao espetáculo, parte da mostra principal. “Quando a organização liberou os ingressos, conversei com alguns amigos e então bolamos a ideia de encontrar pessoas que moram na rua e convidá-los para assistir à peça conosco”, conta.
Fábula sobre mendigos tem altos e baixos
Experiência com mendigos na plateia irritou e divertiu público “com teto”
Leia a matéria completaCerca de três horas antes da estreia, os jovens percorreram o Centro de Curitiba em busca de moradores de ruas que topassem participar. “Quando chegamos ao teatro, percebi que muitas pessoas não gostaram do fato de eles estarem lá. Acho que as pessoas pensam que apenas ricos e pessoas bem vestidas podem ir ao teatro”, afirma Julia.
Interação
Durante os 70 minutos da peça, dois moradores de rua começaram a falar. O tom de voz era alto. Um deles repetiu diversas vezes “é assim mesmo que funciona”, “vida de morador é assim mesmo”, entre outras coisas.
As interferências incomodaram algumas pessoas. Cerca de dez abandonaram a peça no meio. “Não ligo que eles tenham vindo. Mas quando vou ao teatro, quero me concentrar no que estou vendo. Isso não acontece quando temos barulho ao nosso lado”, disse um homem que não quis se identificar.
Os mendigos que assistiram à peça ficaram entusiasmados. “Não é todo dia que temos a chance de vir ao teatro. Me emocionei muito porque a nossa vida é realmente do jeito que eles retrataram”, comentou um deles. Os atores da peça, ainda no palco, agradeceram a presença do público inusitado.
Comemoração
SPon SPoff Spend é o primeiro trabalho para adultos feito pela companhia Maracujá Laboratório de Artes, de São Paulo, e marca a comemoração de 10 anos do grupo. Esta também é a primeira vez que a companhia atua com um diretor convidado, Fernando Escrich.