A atriz paranaense em 2009.| Foto: Priscila Forone/Arquivo Gazeta do Povo

O teatro paranaense perdeu uma das suas maiores referências com a morte de Claudete Pereira Jorge nesta terça-feira (19), aos 62 anos. Em cerca de 40 anos de carreira, a atriz protagonizou obras desbravadoras, trabalhou com os principais diretores brasileiros e transitou por diferentes círculos e gerações da classe teatral, onde também é lembrada pela personalidade vibrante e bem-humorada.

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O corpo da atriz foi velado no saguão do Teatro Guaíra ao longo da manhã e da tarde de quarta-feira. Dezenas de artistas de diferentes gerações passaram pelo local.

A diretora Nena Inoue, que foi sócia de Claudete na lendária cantina do Teatro Guaíra nos anos 1980, diz que a atriz é representante de uma época de dedicação total dos artistas ao teatro. “Ela deixa uma lacuna em uma geração de atrizes e atores que viviam de seu trabalho, da bilheteria”, diz.

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Márcio Abreu ilustra este compromisso lembrando peças que Claudete produzia e levava dentro do próprio carro para circular pelo interior do Paraná. “Foi alguém que viveu seu ofício ajudando a legitimar a dignidade e a beleza da profissão do teatro. Perdemos uma referência do ofício de ator”, define o diretor.

Referência

Nena lembra que, nos últimos anos, Claudete estava especialmente interessada em trabalhar com artistas mais jovens – como fez em “Primavera Leste”, dirigida por Dimis Jean Sores. “Tem gente de 20 e poucos anos que era amigo e frequentava a casa dela”, lembra a diretora.

Há atores que trabalham só com pessoas que conheceram anos atrás, mas Claudete não. Ela foi crescendo com a época dela. Nunca parou de trabalhar com pessoas novas.

Regina Bastos Atriz

“Há atores que trabalham só com pessoas que conheceram anos atrás, mas Claudete não. Ela foi crescendo com a época dela. Nunca parou de trabalhar com pessoas novas”, lembra Regina Bastos.

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A casa de Claudete era um dos redutos de convivência dos artistas de Curitiba. A atriz inclusive abriu a porta para os manifestantes do movimento de ocupação do Iphan, em maio. “Ela não era uma ‘mãe’ de todos, mas era uma referência”, diz Nena.

Para Octavio Camargo, esta influência de Claudete jogou a favor do teatro em Curitiba. “Ela sempre se voltou muito para os textos daqui. Sempre acreditou na produção local e sempre foi muito generosa”, conta. “Quando a conheci, era um diretor jovem, e ela sempre acreditou muito em mim.”

Para Márcio Abreu, Claudete era um “farol” no panorama artístico da cidade. “Imaginar a arte de Curitiba sem a figura dela é difícil. Gente como a Claudete não nasce mais”, diz.

Cena

No palco, Claudete – que era autodidata – ficou conhecida por uma atuação original, marcada por uma voz potente e um temperamento livre e sem pudor, conforme define Márcio Abreu. Ele lembra, por exemplo, a ocasião em que a atriz comeu um cigarro no palco, em protesto contra a proibição de acendê-lo em cena devido à aplicação equivocada da Lei Antifumo em teatros.

Era um furacão. Quem a viu em cena não esquece nunca. Eram impressionantes os tempos que ela tinha tanto para a comédia quando para a tragédia

Regina Bastos Atriz
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“Era um furacão”, lembra Regina Bastos, que contracenou com a atriz pela primeira vez na montagem de “A Dama de Copas e o Rei de Cubas” de Marcelo Marchioro (1952-2014) em meados dos anos 1980. “Quem a viu em cena não esquece nunca. Eram impressionantes os tempos que ela tinha tanto para a comédia quando para a tragédia” , diz.

Para o diretor e ator Edson Bueno, Claudete tinha um estilo de interpretação único. “Você nunca sabia por onde ela iria, porque seria sempre um caminho muito original”, lembra. “Não tem nenhum outro ator ou atriz que tenha o mesmo registro, a mesma maneira de fazer teatro. Era uma força da natureza”, define.

A diretora-presidente do Teatro Guaíra, Monica Rischbieter, que trabalhou com Claudete mais na área da televisão e do cinema, destaca a competência e a precisão da atriz. “Perdemos uma atriz sem precedentes na historia do Paraná”, diz.

Para o iluminador Beto Bruel, a força de Claudete nos palcos era inata, e tinha a ver com sua personalidade. “Era uma pessoa muito otimista, e levava isso para a cena”, lembra.

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Ele avalia que o teatro curitibano está vivendo um momento de especial relevância no país e que a chance de Claudete ser reconhecida nacionalmente era iminente. “Era impressionante a unanimidade em torno dela. Era impossível encontrar alguém que não gostasse dela como atriz. Acho uma pena que o teatro brasileiro não a tenha conhecido a tempo”, diz Bruel. “Claudete era uma das maiores atrizes do Brasil.”