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As atrizes Helen Kaliski, Andreia Porto e Sissa Stecanella mostram o conforto e o desconforto na intimidade. | Pedro Serapio/Gazeta do Povo
As atrizes Helen Kaliski, Andreia Porto e Sissa Stecanella mostram o conforto e o desconforto na intimidade.| Foto: Pedro Serapio/Gazeta do Povo

O sobrado em que a atriz Andreia Porto passou boa parte da infância, na Rua Bernardo Jacintho da Veiga, no Bairro Novo Mundo, estava fechado há pelo menos quatro anos.

Os 200 metros quadrados de memórias não eram a primeira opção, mas acabaram sendo o palco ideal para o espetáculo “Cômodo”, em cartaz até 21 de agosto em Curitiba.

Andreia e as demais atrizes do espetáculo, Sissa Stecanella e Helen Kaliski, são anfitriãs de uma casa que vai, aos poucos, perdendo o sentido de abrigo. As personagens estão de mudança, os móveis foram quase todos retirados e as caixas amontoadas na sala de estar dão a medida do quão avançada essa despedida está. O trio não tem muito a oferecer ao visitante a não ser a própria intimidade. E é a partir disso que a peça se desenvolve.

As três se alternam em grande parte das cenas. Convidam o público – máximo de 15 pessoas a cada apresentação – para segui-las pelos cômodos em angústias e alegrias que só a convivência consegue revelar com fidelidade. O espetáculo não é interativo, mas em alguns momentos a ação se desenvolve bem perto do público. O desconforto da intérprete é vivido por vezes a centímetros de quem a assiste, um efeito que Andrea, Helen e Sissa, também autoras do texto, buscaram durante todo o processo, que foi possibilitado graças a financiamento coletivo.

“Fomos pensando que sensações a gente queria provocar, como permear situações cômodas e incômodas para que o público compartilhasse dessa nossa intimidade”, conta Andreia.

Fim de relacionamento, ansiedade, insônia, solidão, reclamação sobre o trabalho e até uma fofoca sobre a vizinhança foram situações que surgiram a partir da sensação inicial das atrizes em relação a cada cômodo, que nem sempre resultavam em escolhas óbvias. “Foi um processo também de desconstrução nosso. Não era preciso falar de insônia no quarto. Por que não na cozinha? ”, afirma Helen, que protagoniza um monólogo na garagem que fala sobre violência contra a mulher.

Quarto personagem

Cômodo

Até 21 de agosto

Quintas e sextas às 20h

Sábados e domingos às 18h e às 20h

Ingressos: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia-entrada e promocional).

Endereço: Rua Bernardo Jacintho da Veiga, 1.108. Bairro Mundo Novo

É preciso fazer reserva antecipada de ingresso pelo e-mail espetaculocomodo@gmail.com

Não há estacionamento no local e nem nas imediações, os veículos devem parar nas ruas da vizinhança.

A casa, desgastada pelo tempo, é o quarto personagem, com suas colunas, pintura descascada e portas balcão que funcionam como a abertura de pequenos tablados para quem está no jardim ou passa pela rua. O ruído dos vizinhos, o aroma do café fresquinho preparado na cozinha e a temperatura gelada de uma casa vazia também são recursos cênicos importantes para transportar o público para o lugar dos personagens.

Antes de se decidirem pelo antigo lar da família Porto, as atrizes pensaram em produzir a peça em outros espaços maiores, como galpões. Quando ocuparam o endereço, perceberam que os textos, que já existiam, foram se encaixando aos espaços. “A coisa que a gente mais teve que adaptar foi a questão do público. A gente teve que se olhar e dizer: ‘não vai dar para ter muita gente’. Fizemos a marcação das cenas com 15 pessoas aqui dentro, para ver como funcionava dependendo da nossa posição e do público”, conta Sissa.

A estrutura da casa pouco foi mexida. Apenas iluminação e outros elementos cênicos foram instalados, como uma samambaia. As próprias atrizes, com a ajuda da assistente de produção Jessica Gomes, operam luz e som, que inclui a trilha sonora e narrações em off.

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