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“Baile”: dança e projeções. | Ulisses Sato/Divulgação
“Baile”: dança e projeções.| Foto: Ulisses Sato/Divulgação

Muitos espetáculos que nascem de editais de incentivo terminam com uma contrapartida – em geral, uma oficina num bairro desfavorecido. Para evitar que a iniciativa repetisse um padrão imposto aos alunos, a dupla Renata Roel e Fernando de Proença resolveu inverter a ordem e começar o trabalho – e continuá-lo – a partir do trabalho social.

“Não temos uma relação de uso com elas. Fomos descobrindo mais de quem elas são”, emociona-se Renata. “Elas” são 15 senhoras da Associação Açucena, no Alto Boqueirão, com quem os artistas organizam bailes toda terça à tarde há três meses.

Além de dançar, coladinho e tudo, havia muito tempo para conversas informais, nas quais os propositores partiam de uma inquietação pessoal: “o que pode o corpo?” No caso, o corpo de pessoas com mais de 60 anos. Os momentos de chimarrão e conversa também eram aliados para “soltar o esqueleto”.

Da convivência surgiu a dramaturgia de “Baile”, espetáculo que tem apresentações até domingo no espaço La Bamba. O show de dança contemporânea e projeções tem Fernando e Renata em cena, além de vídeos que trazem momentos da experiência no Açucena. A trilha sonora também é contaminada pelo contato com as mulheres farristas, risonhas e contadoras de causos: o músico Vadeco Schettini criou um rap cuja letra é nada menos que uma receita de pato no tucupi, orgulho de dona Nazaré.

Em outro trecho, os artistas simulam um karaokê com a letra de “Não Aprendi Dizer Adeus”. “Descobri que é a melhor música de todos os tempos”, confessa Fernando.

Um ponto alto do espetáculo é a incorporação de movimentos criados pelo grupo de senhoras numa coreografia para “Twist and Shout”. No dia em que trouxeram essa surpresa para Renata e Fernando, elas foram trajadas em figurino anos 60, com saia de bolinhas combinando com faixas no cabelo. “Foi a década delas de frequentar bailes”, explicam os criadores.

O dia em que se divertiram horrores com “Macarena” e o clássico “As Mocinhas da Cidade” foram outras referências para a construção do espetáculo, bem como um depoimento de Fernando sobre a forma como ele foi afetado no processo.

No fechamento das apresentações, no próximo domingo (16), as pés de valsa estarão presentes à apresentação, que tem um trecho de 40 minutos de baile propriamente dito, do qual a plateia participa.

Baile

La Bamba (R. São Pedro, 479 – Cabral ), (41) 3148-0479. Dias 11 às 14h; 14 às 15h; 15 às 20h e 16 às 17h. Entrada franca. Sujeito à lotação do espaço.

Edital

“Baile” é resultado de um projeto selecionado pelo edital Dança nas Quatro Estações, para a criação e circulação de um espetáculo pelo Boqueirão – além das sessões no La Bamba, houve apresentações no bairro com presença constante das protagonistas.

Enquanto iam amadurecendo sua criação nos encontros com as damas do baile, Renata e Fernando pensaram muito em alguns conceitos: a arte como um convite para participar; uma dança contemporânea “comunicável”; e, principalmente, fazer contrapartida social para o próprio crescimento, e não para “instruir” alguém menos favorecido.

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