1 - Cenografia Ousada
O ocupação inusitada do palco é uma das marcas da Armazém e, em “Inútil a Chuva”, o cenário criado pelo diretor Paulo Moraes e pela cenógrafa curitibana Carla Berri reproduz a cada oito pinturas feitas pelo protagonista da peça um pintor desaparecido. Cada cena, portanto, é como se fosse uma pintura em movimento.
O elemento central da cenografia é um barco a remo real de competição, de dez metros, que atravessa o palco em três cenas chaves da peça. O espetáculo foi indicado aos Prêmios Shell e Associação dos Produtores de Teatro do Rio de Janeiro (APTR) na categoria Melhor Cenografia.
2 - Protagonista Ausente
O personagem central nunca aparece. A trama acontece em torno do desaparecimento de um pai, um sujeito que passou a vida pintando quadros que ninguém conhecia e que se torna um pintor incensado no milionário mercado de arte após a morte.
Seus quadros passam a valer milhões e ele é considerado um gênio, uma estrela da arte contemporânea. O público precisa construir esta figura ausente a partir de fragmentos e lembranças de seus excêntricos filhos e amigos no texto tragicômico de Moraes.
Inútil a Chuva
Armazém Companhia de Teatro
Dias 30 de setembro, 1 e 2 de outubro
Teatro Guaíra - Auditório Salvador de Ferrante (praça Santos Andrade, s/nº, centro)
Ingressos: de R$ 40 a R$ 20 (meia entrada)
Membros do Clube do Assinante da Gazeta do Povo tem 50% de desconto no valor inteiro na compra de até 2 ingressos.
3 -Arte versus Arte
O questionamento principal do texto é sobre o sentido da arte. Há um evidente descompasso entre o que a critica e o mercado falam o artista desparecido e quem o conheceu de perto percebia.
Segundo o dramaturgo Paulo Moraes, “uma das discussões que a peça traz é essa. No fundo é uma boa provocação sobre o mundo das artes, sua inutilidade e sua transformação em mercadoria de elevado valor econômico”.
4 -Dramaturgia em família
O texto da peça foi escrito a quatro mãos pelo diretor Paulo Moraes e seu filho Jopa Moraes. Paulo, que costuma dividir suas peças com o escritor londrinense Maurício de Arruda Mendonça, convocou seu filho para co-escrever, para poder usar o olhar de uma geração diferente.
“Como a peça trabalha com a perspectiva dos filhos, a visão dele contribuiu bastante. É diferente a perspectiva de um cara de 21 anos como ele e a minha, que já tenho 50 anos. A mistura fica divertida”.
Em 30 anos de carreira, grupo criou assinatura teatral própria
Uso de espaços cênicos não-convencionais e textos originais são a marca do trabalho da Armazém Companhia de Teatro
- Sandro Moser
A Armazém Companhia de Teatro surgiu em 1987, em Londrina, então uma cidade culturalmente efervescente, em que se destacavam músicos como Itamar Assumpção e Arrigo Barnabé, escritores como Ademir Assunção e Rodrigo Garcia Lopes, e grupos de teatro como “O Cemitério de Automóveis”, de Mário Bortolotto.
“A gente começou em de uma forma até despretensiosa. Queríamos falar sobre a vida e as questões que nos atormentavam”, explica o dramaturgo Paulo Moraes, fundador do grupo.
Depois de algumas montagens que chamaram atenção, como a“A Tempestade”, de Shakespeare com Paulo Autran em 1994, o grupo mudou-se para o Rio de janeiro em 1998.
Desde então, espetáculos como “Alice Através do Espelho” (1999), “Toda Nudez Será Castigada” (2005) e “Antes da Coisa Toda Começar” (2010) valeram diversos prêmios e reconhecimento da crítica teatral especializada.
“Nós sempre quisemos produzir e construir uma dramaturgia própria não montar peças prontas. Nosso objetivo sempre foi refletir sobre a vida contemporânea”.
Espaços não-convencionais
Outra marca do grupo é o que Moraes chama de “ocupação de espaço cênico diferenciada”. As montagens em locais não-convencionais e o uso de recursos cênicos inusitados como o labirinto de espelhos e cortinas que confundiam o público em” Alice Através do Espelho” viraram uma assinatura do grupo .
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