É uma rara oportunidade de assistir ao teatro de Qorpo Santo (1829-1883) no palco. O dramaturgo “maldito” do século 19, que escreveu suas 17 peças num curto período de tempo na década de 1860, é homenageado pelo Projeto Z, da diretora Nina Rosa Sá.
Confira o serviço completo no Guia.
Em cartaz até 3 de maio no Teatro José Maria Santos, Amanhã Sou Outro monta uma colagem de textos e esquetes inspiradas na escrita de José Joaquim de Campos Leão, nome verdadeiro do escritor gaúcho.
A peça estreou durante o Fringe do Festival de Teatro, com patrocínio do Itaú, motivo pelo qual deve ter uma minitemporada de três dias em São Paulo no fim de maio. O objetivo do grupo é ainda levar o espetáculo a Porto Alegre, onde viveu o escritor e jornalista.
O elemento que liga as diferentes histórias é a ironia do autor, cuja obra é situada por teóricos entre o surrealismo e o teatro do absurdo, ambos antes do tempo.
O figurino caprichado remete à época, mas, ao longo do espetáculo, ele é “desconstruído”, nas palavras de Nina. “Vamos mexendo até chegar ao estilo contemporâneo que usamos hoje”, promete.
As peças de Qorpo-Santo que mais se destacam durante a montagem são Dous Irmãos e Dois Esposos – essa última, num escândalo para a época, aborda uma relação homossexual. Outros textos incluem personagens prostitutas, algo totalmente fora do decoro de então.
Manicômio
A obra do dramaturgo foi “interditada” no século 19 e o autor, após internação num manicômio devido a alucinações, não teve mais a liberdade para criar, mesmo tendo recebido o aval de médicos importantes.
A origem do apelido é explicada pelo próprio, conforme a Enciclopédia Itaú Cultural, citando a Enciclopédia ou Seis Meses de uma Enfermidade, obra em que o autor propõe até mesmo uma nova grafia para o português.
Só na década de 1860 a obra de Qorpo-Santo é redescoberta, publicada e montada, mas com parcimônia.
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