A cada novela que entra no ar, aumenta o número de atores curitibanos no elenco. A explosão da atuação local vem sendo estimulada pelas diversas escolas da cidade e por iniciativas voltadas ao mercado do Rio e de São Paulo.
Uma delas aconteceu nessa férias, quando a preparadora de elenco Fátima Toledo foi trazida para ministrar oficinas a dois grupos, num total de 40 atores, estudantes e diretores. Foram horas de muita dor e sufoco – o “método”, como é conhecido o processo de trabalho dessa veterana, envolve longos períodos de concentração a partir de técnicas da bioenergética, e, o que pode ser pior, confrontar-se consigo mesmo.
“Ela faz a gente ver o nosso ‘duplo’, como num espelho, e às vezes isso assusta”, pondera o cineasta e ator Guto Pasko, um dos alunos de Fátima durante uma semana de oficina.
É um mito que eu deixo com hematoma... prendo num quarto escuro, faço velhinha empurrar parede durante duas horas
Em conversa com a Gazeta do Povo, a preparadora contou que seu sistema foi desenvolvido a partir de sua própria frustração. “Eu não ficava satisfeita com o resultado dos atores”, confessa. Aos poucos, seu método “foi acontecendo”, e ela firmou sua convicção de que, em sala de ensaio, ninguém deveria ficar matutando sobre como construir um personagem, de fora para dentro. “Percebi que o importante era ter presença. Se revelar, para revelar o personagem”, conta.
Já são mais de 50 filmes cujo elenco ela orientou, começando com “Pixote, a Lei do Mais Fraco”, quando o diretor Hector Babenco a introduziu no mundo dos “coaches” de ator.
Eu não ficava satisfeita com o resultado dos atores; e aos poucos meu método foi acontecendo
Ao longo dos muitos workshops que ministrou, castings escolhidos e elencos orientados, conquistou fama de malvada – que ela refuta. “É um mito que eu deixo com hematoma... prendo num quarto escuro, faço velhinha empurrar parede durante duas horas”, brinca. “É mais o sofrimento da descoberta de si próprio.”
No caso de Pasko, o interesse era, além de atuar melhor, saber como extrair mais dos elencos que escolhe para seus filmes.
Em Curitiba, ele conta que se depara com muitos atores despreparados para atuar diante das câmeras, inconscientes de que o audiovisual exige um trabalho muito diferente do que no palco. “O mais comum é o ator de teatro começar a gritar na cena”, brinca Pasko. “Eu busco uma maior naturalidade.”
O mercado local também tem seus momentos de pico. O próprio Guto Pasko tenta levantar, por esses dias, dois filmes e uma minissérie de televisão, projetos em que irá trabalhar com atores locais.
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