Que o humor ácido de Teodora Abdala é um espetáculo à parte em “Haja Coração” – novela das sete cuja trama é baseada em “Sassaricando”, de 1987 – basta deixar as redes sociais se manifestarem para confirmar o sucesso. Quem acompanha a carreira de Grace Gianoukas dos palcos ou mesmo do cinema, sabe, no entanto, que o humor é apenas um dos seus trunfos essenciais dentro de um extenso repertório artístico.
Aproveitando o momentâneo afastamento da personagem na novela de Daniel Ortiz, a atriz sobe ao palco do Teatro Guaíra, na próxima sexta (12), à frente do espetáculo “Terça Insana – Grace Gianoukas Recebe”, que tem como convidados os atores Eraldo Fontini, Rita Muray e Darwin Demarch.
Um dos mais relevantes e longevos projetos humorísticos do país – definido pela idealizadora como uma “coletânea de processos de comédia” – o Terça Insana completa 15 anos com uma linguagem, personagens e estética “que não cabem nas prateleiras do humor tradicional”, satirizando através de personagens autorais, com o auxílio de artistas convidados, a condição humana e a própria sociedade contemporânea. Já participaram do projeto grandes nomes como Marcelo Mansfield, Ângela Dipp, Luís Miranda, Marcelo Médici e Marco Luque, entre outros.
Neste novo formato, que conta com um pocket show de abertura de Zico Lamour para a apresentação em Curitiba, o espetáculo é montado tendo como pano de fundo uma série de atrações para o entretenimento dos passageiros antes da decolagem de um avião. A aeromoça (Grace Gianoukas), além de acomodar o público em seus “assentos”, conduz os esquetes ao lado da assistente de palco Sheila (Darwin Demarch). Dentro da programação está o quadro infantil da apresentadora Lili (Eraldo Fontini), tudo isso assistido pela fumante compulsiva (Rita Muray).
Confira abaixo a entrevista com Grace Gianoukas, idealizadora do Terça Insana:
Entrevista
Com 15 anos de palco, o Terça Insana é um projeto que se renova constantemente sem nunca ficar descaracterizado. Quais os elementos que garantem a identidade dos espetáculos?
Cada vez que criamos um novo espetáculo procuramos manter o nosso estilo, a nossa assinatura estética, a nossa linguagem de comédia. O Terça Insana não é um espetáculo só, é um projeto de comédia, uma assinatura – como a do Cirque du Soleil. O segredo é a criação constante, a atualização de tudo que a gente tem feito, analisando o comportamento humano e dessa forma se mantendo sempre contemporâneo.
Um dos aspectos que marca muito o projeto é o “olho clínico” com relação à qualidade dos textos e atores convidados, muitos sendo projetados após a participação no Terça Insana. Como funciona essa seleção?
Eu não saio por aí “pescando pessoas” [risos]. Houve um tempo em que eu recebia cerca de 300 vídeos e textos por mês. Sempre avaliei muita coisa, mas o que é necessário é ter um ponto de vista original sobre diversos assuntos ser um “ator-criador”, um ator com ideias. Não é contar piada, a Terça Insana não conta piadas. A gente cria e reproduz situações cômicas e acima de tudo a gente analisa a sociedade. Nossas personagens geralmente dão voz ao excluído. A gente leva para o palco personagens que tragam um olhar sobre a alma humana, desabando, claro, na comédia.
Terça Insana - Grace Gianoukas recebe
Local: Teatro Guaíra (R. XV de Novembro, 971, Centro)
Data: 12/08/2016, às 21h15
Ingressos: Entre R$ 40 e R$ 130
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Devido a essa postura de ter a sociedade como ponto de partida, você considera que momentos de instabilidade como o que vivemos no país hoje propiciam um terreno fértil para a comédia com um viés mais ácido como o da Terça Insana?
Acho que pode ser sim. Tá fértil para qualquer coisa, menos para a solução. Eu posso analisar tudo o que está acontecendo com bom humor assim como posso analisar com um certo repúdio, ou ainda com raiva, com vitimismo. O que a gente oferece, acima de tudo, uma análise o país com bom humor e reflexão, o que contribui para o amadurecimento da sociedade. A Terça Insana sempre foi sarcástica e a gente continua usando as nossas ferramentas de comédia para pensar o momento que a gente está vivendo. A exemplo do que se viu recentemente no trabalho maravilhoso da abertura das Olimpíadas (feito por pessoas que respeito muito como Deborah Colker, Fernando Meirelles), procuramos assumir um discurso construtivo abordando diversos assuntos. É isso que é necessário para se “olhar adiante”, pensar o mundo no que ele necessita. Somos nós – e não os políticos – que vamos alcançar isso através da nossa mudança de atitude, e o espetáculo busca despertar isso, a impressão de que a responsabilidade é nossa. A gente deixa passar tanta coisa sem refletir que acho que está na hora de sermos menos preguiçosos como sociedade e nos colocar como cidadãos.
Em uma rápida busca sobre o espetáculo da internet, é possível encontrar diversos vídeos “não oficiais” do Terça Insana gravados pelas pessoas presentes. Você acha que isso ajuda ou prejudica o espetáculo?
Apesar de achar que não atrapalha em nada, acho também que não tem nada como ver ao vivo. A velocidade com que se coloca as coisas na internet é a velocidade do mundo atual. O mundo mudou muito e a gente precisa se adaptar a tudo isso. É permitido fotografar, filmar (desde que sem flash) e que se poste com a hashtag Terça Insana [risos]. Em um mundo como o nosso, a partir do momento em que se cria alguma coisa e oferece ao público ela deixa de ser tua, as ideias se confundem, se misturam, só o tempo para se encarregar disso tudo.
Mesmo com a popularidade das “novas” formas de humor em evidência no cenário atual, vocês sempre optaram por manter o humor com personagens. Essa é uma escolha conceitual, artística, como você vê essa questão?
Inicialmente o projeto era uma pesquisa de linguagens de comédia. Então a gente teve clown, dança cômica, personagens, mímica e até pessoas que adotavam o stand up. São várias as linguagens possíveis. A Terça Insana é uma “coletânea de linguagens de comédia”, embora tenha gente que queira nos colocar em uma prateleira de qualquer jeito. Nossos espetáculos são independentes até de um formato que siga o script de um “começo, meio e fim”, desde que seja de comédia. Não estamos presos a nada. Essa é uma liberdade total de criação que eu faço questão de manter. Eu não acho que nada seja novo. Talvez nova seja essa relação com a imagem, com a internet, mas não a maneira de fazer. Tudo já foi feito. Nós somos uma coletânea de coisas que nos atravessaram, não existe geração espontânea. Tem gente que faz uso de uma série de influências e cria, gente que copia e tem gente que é “batedor de carteira”. Nem todos são verdadeiramente artistas. Hoje a gente tem comédia para todos os gostos e níveis culturais, a sorte está lançada.
Paralelamente com o teatro, atualmente você está na novela “Haja Coração”, com a personagem Teodora Abdala, que já foi de Jandira Martini. Como é o processo de trazer a sua veia autoral para a personagem?
Na primeira versão, de Sassaricando, a personagem era um pouco diferente. Ela vivia apenas nove capítulos e depois vinha assombrar o marido [Paulo Autran] como espírito. Nessa versão, a personagem permaneceu por 36 capítulos. Eu tentei trazer para a Teodora um pouco do que aprendi no teatro, que nenhuma personagem é inteiramente boa ou inteiramente má, as pessoas são dúbias. Muita coisa também estava indicada pelo autor, como a dualidade do amor cego que ela tem pela filha [Fedora Abdala, interpretada por Tatá Werneck] e a necessidade de proteger o nome da família a qualquer custo.
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