O ator Thiago Lacerda que o público de Curitiba verá de 25 a 27 de março no Teatro Positivo é alguém que não idolatra Shakespeare. “Senão você simplesmente não consegue fazer”, disse o astro à Gazeta do Povo.
Como protagonista da tragédia “Macbeth” e da comédia “Medida por medida”, duas das atrações do Festival de Teatro, ele é dirigido por Ron Daniels, da Royal Shakespeare Company, considerado um dos maiores especialistas no autor inglês.
A primeira parceria dos dois foi com “Hamlet”, apresentado anteriormente na cidade. Um encontro sobre o bardo com Thiago e o professor Stephan Baumgärtel, dia 27, terá entrada franca.
Onde você conheceu o diretor Ron Daniels?
Quando acertamos de fazer “Hamlet” em 2010 e eu assisti ao Rei Lear que ele fez com “Raul Cortez”.
Foi quando você teve o impulso de fazer Shakespeare?
O impulso veio de ler as peças e me envolver mais com teatro, mas claro que o encontro com o Ronaldo e a montagem de “Hamlet” potencializou toda essa maravilha que é fazer Shakespeare, contar as histórias que esse cara nos oferece.
Como sentia e vivencia agora o peso de “autor sagrado” que muita gente ainda atribui a ele?
Luto contra essa ideia, meu objetivo ao fazer Shakespeare é desmentir isso. Ele era um homem de teatro, queria contar histórias e que as pessoas fossem ao teatro. Ele fazia teatro popular, então esse rebuscamento, essa aura de divindade, foi coisa conferida à obra muitos anos depois da morte dele e que vem entrando no século 21. Claro que o que ele faz é maravilhoso, mas isso só significa que as histórias precisam ser contadas. Se você mitificar Shakespeare, colocar num patamar sobre-humano, simplesmente não consegue fazer. A ideia é tratar as histórias como grandes. Negar a simplicidade do que ele faz e sua popularidade é um desserviço à obra. Este é meu objetivo: fazer com que as pessoas entendam os conflitos.
Pelo fato de você ser muito conhecido, acaba popularizando as peças?
Eu, de alguma forma, acabo levando ao teatro um tipo de público que é muito interessante. Esse trabalho há três anos tem feito no boca a boca, essa manobra de desmistificar Shakespeare. As pessoas já sabem que, quando estou em cartaz, será algo de alto nível, de qualidade e bem feito.
Se você mitificar Shakespeare, colocar num patamar sobre-humano, simplesmente não consegue fazer.
Como é trabalhar com Ron Daniels?
É um privilégio, uma das figuras mais importantes do teatro brasileiro. Ele tem uma consciência única sobre a obra de Shakespeare. Poucas pessoas no mundo têm a mesma intimidade e autoridade para investiga-lo. Além disso, ele tem uma maneira de encarar as peças com a qual eu compactuo: precisa ser para o João e a Maria, para mais pessoas. Não é interessante tratar o teatro como ferramenta de comunicação segmentada. Precisa comunicar, entreter todas as pessoas, na tentativa de resistir aos ataques que o teatro vem sofrendo ao longo das décadas, com pouco incentivo e baixa credibilidade, para que o público venha. As peças fizeram um sucesso enorme em São Paulo, e o público gosta do resultado.
Que diferença você sentiu ao fazer “Macbeth”, personagem que é um ‘rolo compressor’, depois de “Hamlet”, tão reflexivo?
Como ator, é maravilhoso investigar Shakespeare, não é nada difícil. Difícil é se entregar sem preconceitos, sem se render ao “busto de mármore”. É desafiadora a investigação e a maneira de contar essas histórias – não há dificuldade em Shakespeare, há histórias maravilhosas.
O que você trará ao debate durante o Festival de Teatro de Curitiba, dia 27 de março?
Não programo nada, não premedito. Não sei bem o que vai acontecer. Vou falar da jornada dessas peças, da maravilha e complexidade desses personagens.
Serviço
Repertório Shakespeare – “Medida por Medida”.
Alarmado com a imoralidade e a corrupção que tomaram conta de sua cidade, o Duque (Marco Antônio Pâmio) resolve reintroduzir uma antiga lei que pune com a morte todo e qualquer abuso sexual, mas se disfarça para observar tudo de longe.
Dias 26/3 às 16h e 27/3 às 19h. Teatro Positivo. R$70 e R$35 (mais taxa).
Repertório Shakespeare – “Macbeth”.
Após ouvir a profecia de que será rei, um capitão mata o atual soberano e continua um projeto de extermínio para manter o poder.
Dias 25/3 às 21h e 26/3 às 20h. Teatro Positivo. R$70 e R$35 (mais taxa).
Encontro Shakespeare
Dia 27/e às 15h30. Ave Lola Espaço de Criação (R. Portugal, 339 - São Francisco), (41) 2112-9924. Entrada franca.
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