Um dos mais filmados contos de fadas do século 18 chega ao século 21 revestido de alta tecnologia. Mas, como o "lifting" feito pelas celebridades, A Bela e a Fera de hoje parece uma fantasia plastificada. Perdeu as marcas do tempo e, junto, toda expressão.
A história criada pela escritora francesa Jeanne-Marie Leprince de Beaumont (1711-1780) narrava o sacrifício de uma linda jovem que, para salvar a vida do pai, vai viver no castelo de uma criatura monstruosa. Na fábula, vinham à tona temas como o aprendizado da virtude e a diferença entre aparência e essência, em meio a um difuso erotismo subjacente na proximidade da pureza da moça com a voracidade instintiva da fera.
O diretor francês Christophe Gans retoma a história que já ganhou dezenas de adaptações para o cinema e a tevê. Entre elas, uma paradigmática apropriação pelo cineasta-poeta Jean Cocteau em 1946 e, em 1991, a animação da Disney instantaneamente incorporada à imaginação infantil e adulta.
Léa Seydoux e Vincent Cassel, dois astros do cinema francês, protagonizam a nova versão, mas o prato principal da refilmagem são os efeitos visuais. O cenário rural onde a família de Bela se refugia depois que seu pai vai à falência evoca as ilustrações antigas dos livros infantis e corresponde a um esforço do filme de retorno às origens.
Na maior parte da história, porém, predomina o esquema de ação incessante do blockbuster contemporâneo. Nele, a tecnologia deixa de ser apenas suporte para alimentar a fantasia, pois acredita-se que ela funcione melhor com base na saturação dos sentidos, tornando-se demais.
Cada milímetro da imagem vem desenhado e ocupado por todo tipo de efeito gerado em computação gráfica, dos cenários que se transformam às criaturinhas fofinhas que vivem no castelo. Como isso ganha valor próprio e superior e deixa de funcionar para alavancar a narrativa, perdemos o interesse na fábula e nos transformamos numa massa de neurônios atordoados por tanto estímulo.
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