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Ambientação lembra as rodas de capoeira e de samba no início do século passado | Ricardo Sodré/JLM Produções
Ambientação lembra as rodas de capoeira e de samba no início do século passado| Foto: Ricardo Sodré/JLM Produções

Curiosidades

• Línguas Estranhas é a primeira vez em que um texto do australiano Andrew Bovell é adaptado no Brasil.

• Encenada na Austrália em 1998, a peça serviu de base para o filme Lantana (2001), protagonizado por Anthony LaPaglia.

• Texto de Bovell trabalha com uma "teia de histórias", em que eventos desconexos à primeira vista acabam se vinculando ao longo da ação.

• O diretor Bruce Gomlevsky admite influências dos cineastas David Lynch (Cidade dos Sonhos) e Paul Thomas Anderson (Magnólia), e cita como inspiração o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, do livro Vida Líquida.

Línguas Estranhas parte de uma premissa curiosa: mistura o drama de crises conjugais ao suspense de um desaparecimento inexplicável.

A peça estréia hoje na Mostra Oficial do Festival de Teatro de Curitiba depois de uma temporada no Sesc Copacabana, do Rio de Janeiro, em setembro do ano passado. A adaptação apresenta pela primeira vez ao público brasileiro o trabalho de um dos dramaturgos mais célebres da Austrália: Andrew Bovell.

"É um texto forte, contemporâneo, que diz respeito a qualquer ser humano", diz Bruce Gomlevsky, co-diretor do espetáculo – com Daniela Pereira de Carvalho – e também ator em cartaz no teatro carioca com o monólogo Renato Russo.

A peça serviu de base para o elogiado Lantana (2001), filme com Anthony LaPaglia e direção do desconhecido Ray Lawrence. "Mas o filme é meio careta", compara Gomlevsky, "enquanto a peça é mais enigmática".

O diretor conheceu Bovell quando a atriz Teresa Fournier assistiu a uma montagem em Londres e voltou da viagem com o texto embaixo do braço. "Li em duas horas e disse ‘tenho de montar isso’", lembra Gomlevski.

Cada ato conta uma história que, de início, parecem independentes. A primeira tem início com os casais Leon/Sonja e Pete/Jane. Ambos vivem momentos delicados em seus casamentos. Em uma noite, os cônjuges se deparam com a chance de trair seus pares e, por acaso, trocam os parceiros entre si.

No palco, ambos os casais (trocados) aparecem em quartos distintos de motel, conversando ao mesmo tempo, incitando o público a dividir a atenção – ou ao menos tentar dividi-la – entre as ações. Para Gomlevsky, a sincronicidade de cenas é uma das qualidades técnicas do trabalho de Bovell.

No processo de adaptação do texto, os atores Julia Carrera, Otto Júnior, Teresa Fournier e Lucas Gouvea leram o sociólogo polônes Zygmunt Bauman, autor de Vida Líquida (Jorge Zahar Editor). "Simplificando, ele fala sobre a dificuldade de se ter relações estáveis hoje em dia. Vivemos na época das relações virtuais e tudo parece descartável, inclusive o ser humano", explica o diretor e ator.

Essa mistura de drama conjugal e suspense parece aproximar Línguas Estranhas do filme Pecados Íntimos, baseado no romance Criancinhas, de Tom Perrotta. Gomlevsky prefere criar paralelos com os cineastas David Lynch, de Cidade dos Sonhos ("enigma" é uma das palavras que define sua obra), e Paul Thomas Anderson (Magnólia é um exemplo da "teia de histórias" praticada por Bovell).

Contudo, o interesse do dramaturgo australiano – ganhador de prêmios importantes, mas pouco conhecidos, como o London Film Critics Circle de roteirista do ano – parece ser a solidão de seus personagens.

Serviço: Línguas Estranhas. Teatro Paiol (Pça. Guido Viaro, s/ n.º – Prado Velho), (41) 3213-1340. Ingressos a R$ 26 e R$ 13.

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