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Opinião

Terror made in Curitiba

O necrotério é o cenário principal do longa-metragem de estreia do diretor curitibano Paulo Biscaia Filho | Divulgação
O necrotério é o cenário principal do longa-metragem de estreia do diretor curitibano Paulo Biscaia Filho (Foto: Divulgação)

Os fãs de terror trash vão se divertir em uma programação dupla, bem ao estilo daquelas exibidas nos anos 70, que inclui, com poucas quadras de distância, o aguardado À Prova de Morte (2007), de Quentin Tarantino, em pré-estreia no Unibanco Arteplex, e Morgue Story – Sangue, Baiacu e Quadrinhos (2009), em cartaz no Cineplex Batel (confira a programção completa), estreia na direção de longas-metragens do dramaturgo e cineasta Paulo Biscaia Filho.

Depois de conquistar diversos prêmios em festivais internacionais de cinema, entre eles, me­­lhor filme de horror no Swansea Bay Film Festival, no Reino Unido, a produção de terror made in Curitiba abre sua segunda semana de exibição na cidade, com sessões prestigiadas. Ótimo sinal para o diretor que usa a praça curitibana como indicador de como será a recepção da obra em outras partes do país.

O filme é uma adaptação para as telas da badalada peça criada em 2004 por Biscaia, uma das primeiras da Cia. Vigor Mortis, que unia as linguagens dos quadrinhos, do cinema e do teatro para narrar, com humor ácido, flashbacks e inúmeras referências pop, uma história violenta e sanguinolenta. Ana Argento, uma jovem roteirista de quadrinhos, de cabelos vermelhos e estilo indie, é envenenada com toxina de baiacu e, parecendo morta, vai parar no necrotério onde seu algoz, o médico legista Daniel Torres, a aguarda ansioso para estuprá-la, como costuma fazer com todas as suas vítimas.

O teatro, onde Biscaia vinha aquecendo suas turbinas, transparece no filme nos extensos diálogos dos personagens, ditos pelos atores em registro pouco naturalista. O ótimo elenco original da peça, aliás, é um dos trunfos do filme. Mariana Zanette dá a prepotência exata à quadrinista que escolhe seus pretendentes de acordo com suas preferências culturais – com horror, ela lembra de um namorado metaleiro que, com voz em falsete, dedicou-lhe uma música. Seu interesse por Tom, o vendedor de seguros cataléptico que conhece no necrotério, interpretado por Anderson Faganello, só é despertado quando ele passa a discorrer sobre filmes de horror dos quais ela é fã.

Mas é Leandro Daniel Colombo, no papel do vilão, que faz a plateia rir nervosa. Estuprador em série de mulheres que envenena com uma toxina de baiacu usada nos vodus feitos no Haiti, onde foi soldado, ele amedronta e causa repugnância, ao mesmo tempo que nos faz gargalhar com sua neurose, fruto da relação doentia com a mãe religiosa.

O filme renova o gênero de terror com uma linguagem moderna, que o afasta do "terrir" do carioca Ivan Cardoso e dos filmes de Zé do Caixão. Os dois cineastas brasileiros são apreciados por Biscaia. Ele, no entanto, se mostra mais identificado com a construção das cenas e os diálogos recheados de referências pop de Tarantino e Kevin Smith (O Balconista, de 1994) e à sem-vergonhice de Robert Rodriguez (Planeta Terror, dobradinha com À Prova de Morte no projeto Grind­­house), que. como lembra Biscaia, "não se preocupa em ser de mau-gosto". GGG

Serviço:

A próxima sessão de Morgue Story – Sangue, Baiacu e Quadrinhos acontece amanhã (14), às 20h50, no Cineplex Batel.

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