Produto: texto trouxe Ary Coslov de volta aos palcos| Foto: Divulgação

Drogas, pornografia, violência, celebridades, voyeurismo pela internet, homossexualismo e o papel do homem na sociedade são alguns dos temas já tratados nas peças do dramaturgo inglês Mark Ravenhill, conhecido como um dos expoentes da chamada ecstasy generation do teatro britânico.

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E foi justamente a sinceridade com que ele aborda problemáticas contemporâneas, o que chamou a atenção do ator e diretor carioca Ary Coslov durante uma de suas visitas a Londres, em 2001. Na época, estava em cartaz o espetáculo Polaróides Explícitas, de Ravenhill, que Coslov fez questão de trazer ao Brasil naquele ano. O mesmo aconteceu com Produto, texto de Ravenhill cuja primeira montagem brasileira chega ao Festival de Curitiba hoje e amanhã, no Teatro do Sesc da Esquina, como integrante da programação da Mostra Contemporânea.

Escrita pelo inglês em 2005, a peça marcou o retorno do dramaturgo ao papel de ator, algo que ele não fazia desde os tempos em que estudava Teatro na Universidade de Bristol, na Inglaterra. Em formato de monólogo, a narrativa é uma crítica mordaz à indústria cinematográfica e seus blockbusters de temas apelativos e tratamento glamourizado, que visam o lucro a qualquer preço. Nela, um executivo tenta convencer uma jovem atriz em ascensão a protagonizar seu mais novo filme, que ele descreve como um longa-metragem de ação, com todos os melhores clichês hollywoodianos. Impressionada pela história, sobre uma paixão fulminante entre um membro da Al-Qaeda e uma executiva inglesa que perdeu o marido no atentado às Torres Gêmeas, a atriz se envolve em um jogo que explora os limites entre uma história bem contada e a realidade. "O texto é atual, de comunicação fácil e visualização instantânea", destaca Coslov, em entrevista por telefone à Gazeta do Povo.

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Retorno

Assim como Ravenhill, Coslov também voltou aos palcos graças a Produto, após 30 trinta anos trabalhando apenas como diretor de peças teatrais e inúmeras novelas, entre elas Caras & Bocas (2009), Senhora do Destino (2004) e Mulheres Apaixonadas (2003). "A comparação é banal, mas é como andar de bicicleta. Como diretor, eu não perco a relação com a atuação, então não tive nenhum problema. Fiz algumas sessões com uma fonoaudióloga, apenas para verificar se estava tudo certo com a minha dicção", conta.

Na montagem, Coslov divide a cena somente com Gabriela Munhoz, que vive a atriz cotada para fazer o filme sobre terrorismo à la Hollywood. Mas tamanha a loucura do diretor, ela não chega a proferir uma palavra sequer durante o espetáculo. "O personagem não dá espaço para que ela fale nada, mas apenas reaja fisicamente ao que ele está contando", revela Coslov, que buscou em sua própria experiência como diretor de televisão elementos para compor o protagonista de Produto. "Não sou tão louco quanto ele, mas há vários pontos de contato", diverte-se.

Para mais informações sobre a peça, acesse http://guia.gazetadopovo.com.br/teatro.