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Tabucchi escreveu 25 livros, um deles, Réquiem, em português | Divulgação
Tabucchi escreveu 25 livros, um deles, Réquiem, em português| Foto: Divulgação

Ao caminhar pelas salas e corredores dos dois pavimentos que compõem o Palácio Visconde de Nácar, em Paranaguá – prédio construído em 1856, onde antigamente funcionava a Câmara Municipal da cidade e que hoje abriga a Secretaria Municipal de Cidadania e Desenvolvimento Comunitário – não é difícil perceber os danos causados pela ação do tempo e pela falta de investimento na conservação do local, tombado pelo Patrimônio Histórico, em 1966.

A beleza arquitetônica da construção simplesmente some em meio a grandes rachaduras nas paredes, degraus e pisos de madeira que cedem a cada pisada e vigas totalmente corroídas pela ação de cupins, problemas consertados por meio de "remendos" emergenciais – como a substituição do piso original, em pedra, por lajotas de cerâmica; a instalação de divisórias de escritório nas extensas salas de janelas largas e a cobertura dos buracos causados pela retirada das vigas com tábuas finas que deixam pregos à mostra. Isso sem falar na parte exterior do prédio, onde se situa um jardim de paisagem deteriorada, que traz à mente do observador a imagem de um tempo remoto, quando era possível andar entre as flores coloridas e pelos caminhos de pedra-sabão, hoje imperceptíveis em meio à grama e ao mato que tomou conta do local.

A única peça do prédio que ainda inspira uma certa imponência é o plenário, onde a combinação do carpete vermelho-sangue com os móveis de imbuia maciça (devidamente estofados com tecidos do mesmo tom de vermelho) e a bancada arredondada, iluminada por um reluzente lustre fazem com que o visitante se sinta, pela primeira vez durante o passeio, como se estivese conhecendo um local turístico, de grande importância histórica. Mas diversos buracos e pregos ainda não retirados das paredes indicam que a História (assim, com letra maiúscula) já teve presença mais marcante no local. Eram exatamente essas paredes que exibiam 16 obras raríssimas, modestamente avaliadas em cerca de R$ 10 milhões, que, por muito pouco, não foram parar no lixo.

Sem quaisquer dispositivos de controle de umidade, poeira, fungos e animais como cupins e ratos, tampouco equipamentos de prevenção contra roubos e incêndios, 16 retratos de presidentes da República e personagens históricos, produzidos do século 18 até meados do século 20, foram simplesmente abandonados num canto do velho palácio, quando a sede do poder legislativo de Paranaguá mudou de sede. Entre eles, 12 obras de Alfredo Andersen (considerado o pai da pintura paranaense), duas de Rafael Silva (artista nascido em Guaraqueçaba, que estudou pintura com Andersen durante dois anos) e um quadro de Victor Meirelles, trabalho até então desconhecido pelo próprio museu que abriga o acervo do artista catarinense em Florianópolis e que, há dois meses, reconheceu oficialmente a assinatura da impressionante tela que retrata o conselheiro Sinimbu em tamanho natural, única obra de Meirelles no Paraná, de acordo com informações do Museu Paranaense.

Ao tomar conhecimento do estado das pinturas no final de 2005, a Associação Parnanguara de Artistas Visuais (Apav), atualmente presidida pelo artista plástico Diogo Rodrigues Alves, imediatamente solicitou a remoção das obras do local,

"Trabalhamos na contratação de uma empresa para a locomoção das obras para o Palácio Carijó, para evitarmos o agravamento do processo de deterioração. Depois disso, tivemos de remover as molduras, todas infestadas por cupins que já estavam danifificando as telas. Além disso, talvez por falta de informação, os quadros continham manchas, possivelmente de detergentes, e já haviam passado por um processo de restauração feito por um profissional não especializado, que prejudicou ainda mais os retratos", lamenta o presidente da Apav. (leia mais sobre os danos causados às obras no quadro ao lado).

Com o intuito de restaurar e conservar as 16 obras adequadamente, a Apav criou o projeto Tesouros Culturais da Câmara de Paranaguá, aprovado pelo Ministério da Cultura em setembro do ano passado, possibilitando a captação de uma verba de R$ 467.010,57, através da Lei Rouanet.

A fase de captação encerra no final do ano e o projeto vem sendo estudado por algumas empresas, apesar de já ter recebido diversas propostas de restauradores interessados em comandar o processo de recuperação, a Apav teme que sua preciosa descoberta não desperte a atenção de possíveis patrocinadores. "Parte do empresariado desconhece o verdadeiro significado do que é marketing cultural. Hoje em dia é algo de suma importância ter o nome de uma empresa veiculado a um projeto de cunho histórico-cultural como este. Espero que nossa proposta seja recebida, analisada e compreendida com seriedade ", explica Alves.

Mais informações sobre o projeto podem ser obtidas pelos telefones (41) 3038-1697, (41) 9602-6060 ou (41) 9118-4060.

Lente de aumento

Retrato do conselheiro Sinimbu – Encomendado pela Câmara Municipal de Paranaguá ao artista catarinense Victor Meirelles (1832 – 1903) em homenagem ao Conselheiro Sinimbu – representante de dom Pedro II, que viabilizou a construção da ferrovia entre Paranaguá e Curitiba –, o retrato foi inaugurado em 16 de maio de 1880. A assinatura do artista foi reconhecida oficialmente pelo Museu Victor Meirelles há cerca de dois meses e, de acordo com o Museu Paranaense, este é o único trabalho de Meirelles no estado. Pintada em óleo sobre tela, a obra mede 2,56 metros de altura por 1,67 metros de largura e apresenta perdas de massa pictórica nas áreas esquerda e inferior, presença de fungos, repintura inadequada, além de problemas na moldura, que está tomada por cupins.

Retrato de visconde de Nácar – Datada de 1896, a obra em óleo sobre tela de Alfredo Andersen – artista norueguês que residiu em Paranguá entre 1892 e 1902 – encontra-se em estado de conservação ruim, com áreas de tinta craquelada (rachada) e perda de massa pictórica na região dos olhos, ao lado do nariz e da comenda do retratado. A lateral da tela conta com vários furos causados pela ação de cupins, manchas esbranquiçadas visíveis no canto direito inferior e alterações de tonalidade na área já restaurada. A moldura, retangular com centro oval, apesar de restaurada em 1995, apresenta agressões de brocas e cupins.

Retrato de Afonso Pena – Outra obra de Alfredo Andersen, feita em óleo sobre tela, sem data especificada. A tela, rasgada e restaurada com remendos nas laterais, apresenta repintura de fundo e sobretudo do retratado. Há manchas na área inferior, focos de agressão por fungos e tinta craquelada e raspada na área de fundo central. Notam-se ainda resíduos de tinta ou verniz no rosto da figura, assim como um acentuado contraste de tonalidades causados pela emolduração oval e sujidades (fragmentos de sujeira).

Retrato de Epitácio Pessoa – Retrato feito em óleo sobre tela pelo artista de Guaraqueçaba Rafael Silva, que foi aluno de Alfredo Andersen durante dois anos. Sem data de produção definida, a obra apresenta craquelê generalizado com sujidades em sua superfície, necessitando de higienização. A área de exposição apresenta-se nitidamente marcada pela camada excessiva de verniz aplicada na obra já emoldurada. Notam-se áreas de repintura nos reflexos de luz existentes no lado direito do rosto, pinceladas de cor preta no bigode e no terno do retratado, além de furos laterais causados por cupins.

Retrato de Rodrigues Alves – Óleo sobre tela realizado por Alfredo Andersen, em data não-especificada, apresenta craquelê de fundo com levantamento da camada pictórica. A tela encontra-se rasgada na lateral superior direita, com furos causados por cupins em seus quatro cantos. Há pigmentos de tinta dourada na tela, provenientes da repintura da moldura em obra enquadrada, além de manchas de excesso de verniz sobre a pintura.

Os laudos foram realizados pela artista plástica paranaense Siani Trentin, em dezembro de 2005.

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