Paulo Trajano e Luiz Furlanetto: mais de uma dezena de personagens| Foto: Divulgação

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O Guia Gazeta do Povo selecionou programas imperdíveis para você fazer na cidade logo após ver uma peça durante o Festival de Curitiba. Que tal esticar a noite com um jantar romântico, uma balada ou um barzinho para tomar aquela cerveja gelada com os amigos?! Assista ao vídeo e veja as dicas

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Se tentar fazer uma lista de espetáculos imperdíveis no festival deste ano, Pedras nos Bolsos deve ser, fácil, um deles. Dá para afirmar isso baseado nos créditos da montagem e na recepção que teve durante a curta temporada no Rio de Janeiro, com 28 sessões no teatro Poeira, no ano passado.

A talentosa Marie Jones, parte da nova dramaturgia irlandesa, teve uma carreira como atriz antes de se dedicar à escrita. Talvez a experiência anterior explique por que os seus textos são oportunidades incríveis para demonstrar talentos dramáticos. Mais sobre isso daqui a pouco.

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A história fala de um par de amigos, Charlie e Jake, que vivem numa cidadezinha da Irlanda. O lugar foi invadido pela produção de um filme de Hollywood que, muito rápido, transforma o dia a dia dos moradores. Os amigos foram escalados para participar da produção e é através dos olhos deles que o público acompanha o que se passa.

Uma tragédia fulmina a cidade e os estrangeiros que tomaram conta do lugar. Um jovem morador da região resolve se suicidar (daí as pedras nos bolsos) depois de ter sido esnobado pela estrela do filme, Caroline Giovanni. A produção cinematográfica não é interrompida, embora a cidade esteja de luto. Esse descompasso entre um evento e outro cria mal-estar entre os irlandeses, que passam a se questionar sobre a situação.

Mais de uma dezena de personagens transitam pela peça, todos eles interpretados por apenas dois atores: Luiz Furlanetto e Paulo Trajano. O cenário é mínimo, resumido a uma mesa e dois bancos. Os figurinos também são básicos e as transições de um personagem para outro ocorrem com pequenos detalhes – como um chapéu ou uma toalha –, além de recursos de iluminação. A direção de Pedras nos Bolsos é do inglês radicado no Brasil David Herman.

A estrutura que privilegia o trabalho do ator, levado a se desdobrar em muitos e a convencer a plateia apelando para poucos recursos além do próprio talento, faz do texto de Marie Jones um achado para quem se interessa por interpretação. No intervalo de segundos, Furlanetto e Trajano conseguem alternar personas como quem coloca ou tira um chapéu.

Há quatro anos, o produtor Rogério Corrêa viu uma montagem do texto de Marie Jones no Duke of York’s Theatre, em Londres. Foi o ponto de partida para a adaptação brasileira. "O que me pegou foi o trabalho dos atores e a ousadia do texto", diz Corrêa. "Ele trata do capitalismo cultural e fala sobre como encontrar a própria voz nesse mundo globalizado."

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A crítica teatral do Rio respondeu à peça com entusiasmo. Referência-mor no meio, Barbara Heliodora avaliou o texto como "brilhante" e considerou o espetáculo "um presente para o espectador". Marie Jones, ao contrapor a cultura local de uma cidadezinha da Irlanda à produção avassaladora de um filme hollywoodiano, defende a importância das "pequenas histórias humanas".

Serviço:

Pedras nos Bolsos. Sesc da Esquina (R. Visconde do Rio Branco, 969). Direção de David Herman. Texto de Marie Jones, traduzido por Ana Luiza Martins Costa e Laura Ronai. Hoje e amanhã, às 21 horas. Confira o serviço no Guia Gazeta do Povo