Reestreia
O Evangelho segundo Alberto Caeiro
A peça O Evangelho Segundo São Mateus retorna ao cartaz a partir de hoje, pela programação do Circuito Cultural Sesi Teatro Guaíra. Faz temporada de um mês no Teatro José Maria Santos, onde já havia sido apresentada em setembro de 2008. Desta vez, contudo, o dramaturgo e diretor Edson Bueno ocupa um dos lugares à mesa, em companhia do restante do elenco, substituindo Luiz Carlos Pazello.
Enquanto preparam a massa do pão, o grupo de atores se põe a discutir as passagens bíblicas contidas no texto que nomeia o espetáculo, como o "Sermão da Montanha" e as "Parábolas" . O ponto de vista religioso, católico, se contrapõe à leitura mais livre proposta por Fernando Pessoa no oitavo poema do livro O Guardador de Rebanhos, que o português assina sob seu heterônimo metafísico, Alberto Caeiro ("Eu não tenho filosofia, tenho sentidos").
Livres
Nos versos, o poeta comete a liberdade de imaginar Jesus menino, fugido do Céu onde tudo era falso. Também na peça (em que o ator Marcelo Rodrigues representa o menino, sem assumir propriamente um personagem), Edson Bueno se permite uma liberdade que ainda não havia experimentado antes, na carreira longa frente ao grupo Delírio: derrubar a quarta parede, que assegura o ilusionismo no teatro, e abrir a encenação a uma conversa mais próxima e descontraída com o público. (LR)ServiçoO Evangelho Segundo São Mateus. Teatro José Maria Santos (R. Treze de Maio, 655), (41) 3322-7150. Texto e direção de Edson Bueno. Com Marcelo Rodrigues, Regina Bastos e Diego Marchioro. Quarta a sábado às 20 horas e domingo às 19 horas. R$ 10 e R$ 5 (meia). Até 29 de novembro.
Chiclete & Som
Subjetivos, passionais, os escritos de Caio Fernando Abreu eram consumidos com prazer pelos atores Pablito Kucarz e Uyara Torrente na privacidade da leitura solitária. Levá-los ao palco seria, para esses jovens artistas de teatro, um passo natural. Há dois anos e meio, os dois fundadores do grupo Teatro de Breque começaram então a conceber as ideias que dariam forma à peça Chiclete&Som, uma colagem de contos e artigos para jornal do autor gaúcho morto em 1996, sobre o amor. A montagem, ganhadora do prêmio Myriam Muniz, estreia hoje, às 20 horas, no TUC.
Ao mesmo tempo que parecia uma escolha óbvia, a opção pelo universo de Abreu implicava um desafio. Seria preciso vencer a pessoalidade da literatura do escritor. "É um texto que diz coisas tão significativas para nós, mas como sair do nosso quartinho onde ficamos isolados do mundo e fazer isso virar cena e conversar com o público?", pergunta-se Kucarz, integrante também da Pausa Companhia. Apostaram na força sedutora das histórias, sem fazer concessões estéticas em troca.
"Sem Ana, Blues" é o conto mais presente em Chiclete&Som ainda assim, em trechos. "Os Dragões Não Conhecem o Paraíso" e "À Beira do Mar Aberto" também aparecem. A produção dos anos 80, "mais dark", é a mais marcante em cena, segundo a diretora convidada, Nina Rosa Sá (integrante do grupo Teatro de Ruído, que recentemente apresentou Na Verdade Não Era...).
A fase aborda o amor que descamba na violência física e verbal, no terrorismo psicológico. São efeitos da dificuldade de comunicação entre os amantes. O incomunicável se traduz na dramaturgia. "Temos textos em diferentes línguas, para criar uma barreira real; atores que não conseguem dialogar, um fala mas o outro não está ouvindo; e simplesmente o não entendimento total, até chegar na violência", diz a diretora.
"Tudo o que a gente lê do Caio é muito passional e extremista. Ele nunca fica em cima do muro. Quando é romântico, vai para o brega e o melodrama. Nunca é bege: ou roxo ou vermelho. A gente chega a uma violência, mas também a uma paixão, que é fruto disso", diz Kucarz.
O exagero nas cores os levou a não se satisfazer com um "teatro plástico e bonito". "Caio fala que, se você quer produzir arte, aquilo tem que sangrar dentro de você. Cutucar até que se transforme em material artístico. Se ficar na superfície, fica raso. A gente se cutucou, se provocou, tentou sangrar um pouco para levar isso para a cena", conta o ator, que fundou com Uyara o Teatro de Breque, estreando com a peça curta O Beijo, no Coletivo de Pequenos Conteúdos.
A atmosfera dramática sugerida pelo tema se dispersa em elementos visuais trash e no humor patético, propositadamente calculados pelo grupo para se opor à seriedade de um amor exacerbado e destruidor. "O patético evidencia uma faceta muito desnuda de uma pessoa, é a realidade palpável que a gente às vezes tenta esconder. É triste, mas não se consegue deixar de rir", justifica Kucarz.
Serviço
Chiclete&Som. TUC Teatro Universitário de Curitiba (Gal. Julio Moreira Largo da Ordem), (41) 3321-3312. Direção de Nina Rosa Sá. Com Uyara Torrente, Rúbia Romani, Paulo Vinícius e Pablito Kucarz. Quarta a sexta-feira, às 20 horas. Quinta e sexta-feira, ingressos a R$ 10 e R$ 5 (meia). Às quartas-feiras, R$ 3. Classificação indicativa: 14 anos. Até 27 de novembro.
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