Por cobrir o período entre 1882 e 1910, os 24 textos compilados no volume Os Últimos Dias oferecem um Liev Tolstói (1828-1910) mais espiritualizado e religioso, mas ainda preocupado com a arte e a força dela sobre as pessoas. Nessa época, o russo autor de Guerra e Paz e Anna Kariênina havia deixado para trás uma existência de "parasita" e buscava viver a "vida de verdade".
Depois de passar anos ocupado com o que chama de "conhecimento racional", Tolstói escreve em Uma Confissão: "A única coisa que me salvou foi ter conseguido me libertar de minha condição privilegiada e enxergar a vida de verdade, do povo simples e trabalhador, e entender que a verdadeira vida é essa". Um fragmento do livro de 1882 consta do volume da Penguin - Companhia Clássicos.
Em meio aos textos, há joias como "Sobre Shakespeare e o Teatro", em que o russo demole o dramaturgo inglês de Rei Lear, tachando as peças de "situações trágicas impossíveis", como destaca o romancista Jay Parini na introdução. Chega a ser cômico ler que, para Tolstói, era "indubitável" que Shakespeare não era um artista.
A escolha de Parini para apresentar a coletânea faz sentido. Ele pesquisou a vida de Tolstói e acabou escrevendo um romance sobre os momentos derradeiros do escritor. A Última Estação saiu no Brasil pela Record e acabou sendo adaptado para o cinema, com Christopher Plummer no papel principal e Helen Mirren encarnando a mulher, Sófia (famosa por ter passado a limpo e à mão as mil e tantas páginas de Guerra e Paz mais de uma vez).
O russo não queria ser só o maior escritor de seu país e agiu como um profeta. Ele oferecia interpretações dos textos religiosos e produziu ficções e histórias para dar conta dos temas que o ocupavam. A Sonata a Kreutzer, um dos belos trabalhos que criou na fase transcendental, foi inspirada também pela ideia da abstinência sexual dentro do casamento.
Em "O Que É a Religião e em Que Consiste Sua Essência?", ele diz: "Em nosso tempo, os homens de ciência decidiram que a religião é desnecessária, que a ciência a substituirá ou já a substituiu; porém é fato que agora, assim como outrora, na sociedade humana, nem um único homem racional pode viver sem religião".
Com uma carreira prolífica e eclética, Tolstói escreveu romances, contos, peças, perfis, ensaios, diários e cartas estes dois têm trechos bons incluídos em Os Últimos Dias. A edição brasileira do livro foi toda traduzida direto do russo por um grupo formado por Anastassia Bytsenko, Belkiss J. Rabello, Denise Regina de Sales, Graziela Schneider e Natalia Quintero. A professora e pesquisadora Elena Vássina, da Universidade de São Paulo, responde pela coordenação editorial.
Serviço:
Os Últimos Dias, de Liev Tolstói. Penguin - Companhia Clássicos, 432 págs., R$ 29,50.
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