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      Till – A Saga de um Herói Torto (clique e confira o serviço da peça) chega muito mais perto do público do que os dois espetáculos anteriores que o Grupo Galpão trouxe a Curitiba: Um Homem É um Homem, dirigido por Paulo José, outro que transitava pelo universo popular com um forte fundo político; e Pequenos Milagres, um desvio competente para o melodrama realista orientado por Paulo de Moraes, do grupo Armazém.

      O elemento fundamental para que isso aconteça é o humor direto, corpóreo, sem delicadezas, vindo de situações absurdas como o resgate de um bebê que se recusa a nascer por um anão que mergulha útero adentro, ou de gatilhos ainda mais garantidos, relacionados à região do ventre.

      Eles capturam sem distinção o espectador para dentro de uma história ambientada na Idade Média, mas que fala essencialmente de pessoas miseráveis como as que sobrevivem no aqui e agora, para quem a ignorância dói menos do que a fome, e as perspectivas de vida são nulas. Sem didatismo. A crítica social, ao contrário do humor, tem suas sutilezas e acrescenta camadas de interpretação, por exemplo no figurino do diabo em que gravatas pendem como rabo.

      A relação que se estabelece com o protagonista é dúbia e, por isso, mais interessante. Inês Peixoto constrói com domínio da voz, das expressões e do corpo uma figura desprezível e carismática, por quem se sente enfim compaixão exatamente pelo difícil que é sentir compaixão por ele – coisa que nem a mãe tem. Atinge dessa maneira o retrato mais cru de uma classe com quem, de fato e na prática, poucos se importam.

      Mesmo quando apresentado em um teatro frontal, como a Ópera de Arame, onde abriu o Festival de Curitiba para convidados na noite de terça-feira (16), não dá para esquecer que Till é um espetáculo de rua. Faz falta a proximidade física com o público, sob a qual se estrutura a linguagem do espetáculo, e a trama dá sinais de cansaço no vai-e-vem da segunda metade. Se o grupo consegue suprir a distância imposta pela estrutura, é por mérito da experiência dos atores na criação dos tipos cômicos e dos apelos visuais capazes de atravessar o hiato entre palco e plateia.

      A quem prefira vê-la em um espaço aberto, a peça terá duas apresentações gratuitas no Parque Barigui. No sábado (20), às 17 horas, e no domingo (21), às 15 horas.

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