Para que um filme de Tim Burton dê certo, não basta que o argumento esteja em sintonia com o universo gótico, entre o humor e o horror, forjado pelo diretor em mais de três décadas de cinema. É preciso que tudo do roteiro à direção de arte, passando pela escolha dos atores e pela trilha sonora seja eletrificado por algo que transcenda a forma. Caso contrário, a sensação que fica é de vazio. Por isso, a filmografia do cineasta norte-americana é povoada por joias, como Edward Mãos de Tesoura e Ed Wood, mas também por obras frustrantes e sem alma, a exemplo dos recentes Alice no País das Maravilhas e Sombras da Noite.
Talvez por conta dessa constatação, a de que um bom Burton é aquele que dá choque, e emociona, que Frankenweenie talvez seja, mais do que uma síntese, uma metáfora de seu cinema. Indicado ao Oscar de melhor longa-metragem de animação, o filme, que toma como base o curta-metragem homônimo de 1984, é catártico, encantador.
Tomando como base os personagens míticos do romance gótico Frankenstein, de Mary Shelley (1797-1851), Burton transforma o médico visionário e delirante que deseja brincar de Deus do livro no menino Victor, que sonha fazer cinema. Ele realiza filmes caseiros de terror, sempre estrelados por seu melhor amigo, o cãozinho Sparky.
Quando o animal é atropelado e morre, a dor da perda é tamanha que ele, imitando o cientista louco da obra de Shelley, decide trazê-lo de volta à vida, ainda que cheio de remendos e enxertos, utilizando a eletricidade gerada pelos raios durante uma tempestade. A experiência é bem-sucedida, mas Victor é forçado a enfrentar as consequências de sua ousadia: espantados com a nova aparência bizarra de Sparky, os vizinhos e colegas do garoto passam a ver o animal como uma ameaça, nele projetando a monstruosidade de seus preconceitos.
Bela homenagem ao cinema clássico de horror e de monstros, com citações a Nosferatu e Godzilla, entre outros, Frankenweenie foi realizado por meio da técnica de stop motion, e coloca-se ao lado dos bons filmes de Burton justamente por ser "eletrificado" por uma equilibrada mistura de humor, terror e lirismo. GGGG