Dono de produções “gigantes” como Alice no País das Maravilhas e Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas, diretor tirou o pé em novo longa, considerado o menos Tim Burton dos filmes de Tim Burton| Foto: Eah Gallo/Divulgação

Os Grandes Olhos marcaram profundamente a infância de Tim Burton. Detalhe fundamental de uma série de pinturas de crianças de rua que era febre nos Estados Unidos do início dos anos 1960, eles se multiplicavam por paredes em todo canto: na varanda do vizinho, na cozinha do amigo, no consultório médico, na sala da avó do diretor.

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"Esses trabalhos eram muito presentes, e eu os achava muito perturbadores", conta Burton, jogado sobre o sofá de um quarto de hotel em Nova York. "Tem essas crianças fofas de olhos grandes e alguma coisa estranha, que incomoda, nelas. É como uma imagem de filme de terror. Gosto da mistura de sentimentos que despertam. Acho que é por isso que são tão poderosos e ressoam tanto."

O embaralhamento de emoções acabou virando um traço importante do cinema do diretor americano, que circula com maestria entre o alegre, o bizarro, o engraçado, o triste, o sombrio, o macabro, o excêntrico, o fantasioso, o kitsch. Depois de uma sucessão de filmes gigantescos – Alice no País das Maravilhas (2010), A Noiva Cadáver (2005), Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas (2003) –, ele parte de uma história bem pessoal em Grandes Olhos, que, curiosamente, pode ser (e vem sendo) considerado o menos Tim Burton dos filmes de Tim Burton.

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"É uma produção de baixo orçamento (US$ 10 milhões, estima-se), não tem explosões, aliens, nada disso. Mas eu fiz o filme, eu senti os personagens, e é claro que eu estou 100% ali", diz o diretor sobre o longa, que estreia no Brasil dia 29 de janeiro.

O enredo propriamente dito Burton só conheceu em meados da década de 1990: Walter Keane –uma espécie de pré-Andy Warhol que revolucionou a comercialização da arte, abrindo a própria galeria e vendendo pôsteres dos "grandes olhos" até no supermercado – não era o autor das pinturas, assinadas apenas com seu sobrenome. A fraude, uma das maiores da história do métier, só veio à tona quando sua mulher, Margaret, a verdadeira artista, lhe ganhou um processo.

"Foi um amigo quem me contou essa história, muitos anos depois, e eu fiquei fascinado. Ela nunca foi tratada como um grande escândalo da arte porque o establishment nunca considerou que aquilo era arte, então só os jornais locais deram, e muita gente sequer ficou sabendo na época, nem eu", lembra. "Pouco depois, numa viagem a São Francisco, fui ao ateliê de Margaret e encomendei uma pintura. Não estava pensando num filme, meu interesse vinha mais do meu encanto com o trabalho, da memória que eu tinha dele."