Cinema imita a vida: apreensão de caminhão iniciou a Operação Lava Jato.| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

Tudo começou com a apreensão de um caminhão de palmito em 2013. O nervosismo entregou o motorista. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) descobriu que, além da pupunha, havia 700 quilos de cocaína no meio da carga.

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Era o fio solto. Que, puxado pela Polícia Federal (PF), revelou o nome do dono de um posto de gasolina e de um doleiro. Depois, o carretel completo que daria origem à Operação Lava Jato.

A primeira cena do ato número um que geraria um terremoto chamado Lava Jato, virando o país do avesso, foi recriada na manhã da última quarta-feira (23) na BR 376, na colônia Witmarsum, a 50 quilômetros de Curitiba.

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Será a sequência de abertura do filme “Polícia Federal – A Lei é Para Todos”. Dirigido por Marcelo Antunez (“Qualquer Gato Vira Lata”), é o primeiro da trilogia sobre a Lava Jato.

Na estrada sem acostamento, cercada dos eucaliptos e pinus típicos da região agrícola dos Campos Gerais, a cena foi mais espetacular que a ocorrência real. Na ficção, houve resistência à prisão, perseguição e troca de tiros. Tudo filmado por três câmeras, uma delas em um drone.

“Cinema é isso. O episódio aconteceu mesmo. Talvez não exatamente assim”, explica o produtor Ricardo Lima, que descobriu a locação.

Só esta cena mobilizou mais de 300 pessoas para ser concluída. Incluídos os 35 agentes dos grupos de elite da PF e PRF que ficaram no set para dar assessoria técnica e atuar na figuração.

Um deles era o policial federal Chastalo, chefe do Grupo de Pronta Intervenção (GPI) da PF . “Eles querem deixar a coisa mais crível possível. Estamos aqui para mostrar como verbalizar e qual é a ação tática em uma abordagem como esta”.

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Em viatura cedida pela Polícia Federal, dublês recriam cena que deu origem a operação Lava Jato” .
Na ficção , o motorista do caminhão reage. Na vida real, foi o traficante preso quem começou a entregar todo mundo.
Região agrícola do país: manhã pacata na Colônia Witmarsum foi agitada pela produção.
O transportador Nélson Rossini Filho emprestou o caminhão: “Sou a favor da Lava Jato, o pessoal da equipe é gente boa e o cachê é bom”.
Luz, câmera e Lava Jato: filmagens no Paraná mobilizam trezentas pessoas.
Direção de arte coloca os papelotes cenográficos de droga no palmito: tráfico foi o fio solto do novelo.
O produtor Tomislav Blazic: sem dinheiro público.
O diretor Marcelo Antunez prestes a autorizar a perseguição: primeiro filme da série estreia em maio de 2017.

Sem dinheiro público

A colaboração com a PF é o diferencial do filme. A equipe de produção trabalha em conjunto com a força tarefa da Lava Jato há doze meses. Além de acesso a informações exclusivas, fazem parte do acordo o apoio logístico, acesso às instalações e equipamentos como viaturas, helicópteros, armamentos e uniformes.

“O filme mostra os acontecimentos do ponto de vista dos olhos investigativos da PF. É um filme apartidário, baseado em fatos reais, com a narrativa mais fiel possível aos relatórios da PF”, explica o produtor Tomislav Blazic, do sucesso nacional “Vestido para Casar”, que tinha no elenco Leandro Hassum e Fernanda Rodrigues.

“Não há recursos públicos ou captados por meio da lei do audiovisual. Pelo grau de complexidade do tema altamente sensível, a gente optou por usar somente recursos privados”.

Os patrocinadores e apoiadores foram obrigados a assinar uma cláusula contra a corrupção, garantindo não ter envolvimento pessoal ou privado com empresas envolvidas na Lava Jato.

Para ele, a trilogia pode ajudar o cinema nacional. “O eventual sucesso [da série] pode mostrar aos produtores que é possível financiar filmes desta forma”.

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O fim das filmagens da primeira parte está marcadas para janeiro e a estreia prevista para maio de 2017. O roteiro de Gustavo Lipsztein e Thomas Stavros transformou a história em um thriller que começa na fuga do caminhão e termina com a condução coercitiva do ex-presidente Lula.

Falta o Moro

Lula será interpretado pelo curitibano Ary Fontoura. No elenco também estão Antonio Calloni, Flávia Alessandra e Bruce Gomlevsky, mais famoso por ter encarnado Renato Russo no teatro.

O papel do juiz Sérgio Moro, que deverá aparecer pouco no primeiro filme, ainda está em negociação.

“Tivemos a recusa de colegas e atores amigos que não queriam trabalhar de jeito nenhum. Mesmo antes de ler roteiro e sem saber do que realmente se tratava, por acharem que atacávamos a esquerda ou determinado partido”.

Gente diferente

Quem também quase se recusou a colaborar foi a empresária Edit Boldt, dona da restaurante que virou a central de operações da produção em Witmarsum.

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“Nem sei como aconteceu. Eles apareceram no domingo, o dia mais movimentado do café colonial. No começo fiquei com medo: era gente diferente com sotaque diferente”.

Após consultar as filhas, dona Edit cedeu. Quatro dias depois se divertia com a agitação na pacata comunidade menonita.

“Vai ficar pra história. Minha orelha vai esquentar, o pessoal só vai falar nisso. As meninas solteiras que trabalham comigo é que estão gostando”.