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Herbert Vianna (esquerda) e Tony Belloto: duas das maiores bandas do país proporcionaram show morno e artificial | Fabiana Baioni /Divulgação
Herbert Vianna (esquerda) e Tony Belloto: duas das maiores bandas do país proporcionaram show morno e artificial| Foto: Fabiana Baioni /Divulgação

O prazo de validade parece que vai se aproximando para duas das mais importantes bandas brasileiras. Os Paralamas do Sucesso e Titãs se apresentaram mais uma vez juntos no palco do Teatro Guaíra, em Curitiba, na noite da última sexta-feira. "Privilegiados" por problemas na acústica do local e por detalhes instrumentais que revelam a sensação de anacronismo dos grupos, o show tornou-se modorrento e artificial.

A união de Herbert Vianna, Bi Ribeiro e João Barone (Os Paralamas) e Tony Bellotto, Sérgio Britto, Paulo Miklos, Branco Mello e Mário Fabre (Titãs) foi mais um encontro de amigos que já compartilharam ideias e experiências do que o prenúncio de um bom espetáculo. Não há como negar a importância dos grupos no cenário roqueiro do Brasil, mas, juntas, as bandas não conseguiram empolgar nem nos maiores hits, como "Marvin" (Titãs) e "Ela Disse Adeus" (Os Paralamas).

Ponto determinante no "não-sucesso" do espetáculo foram as duas baterias no palco. Mário Fabre assumiu as baquetas dos Titãs há pouco tempo, depois do anúncio da saída de Charles Gavin. Ficou evidente a falta de estrada e de ensaio do músico, que vidrava seu olhar no ótimo João Barone em busca do próximo compasso. Então pratos soavam aleatórios e bumbos eram atravessados.

Já Tony Belloto regulou sua guitarra nas alturas, ignorando o resto dos instrumentos mesmo em músicas mais calmas – em que banquinhos indicavam a tranquilidade vindoura. Mais do que estilo próprio, Bellotto tentou reencarnar a característica punk e de protesto dos Titãs dos anos 1980, evidente principalmente no álbum Cabeça Dinossauro (1987). Mas o que conseguiu foi se destacar negativamente ao não obedecer as regras daquele jogo, um tanto confuso, que fez, por exemplo, Branco Mello correr perdidamente por entre seus companheiros, aparentemente também não muito à vontade.

Para um Guaíra lotado, o melhor momento do show foi, ironicamente, quando as bandas tocaram separadas. Com "Bichos Escrotos", os Titãs conseguiram reviver um pouco do que já foi o grupo, quando ainda contava com Arnaldo Antunes (que saiu em 1992), Nando Reis (em 2002) e Marcelo Fromer (morto em 2001).

Já Herbert Vianna agora parece que conseguiu adequar as músicas à sua nova maneira de cantar, que surgiu tragicamente depois do acidente que o deixou paraplégico, em 2001. Na guitarra, ainda é um virtuose. O genuíno pop rock brasileiro feito na década de 1990 voltou bem aos palcos com "Lourinha Bombril", destaque no show d’Os Paralamas. Mas, em suma, a solidão mo­­mentânea foi superior à união forçada.

O contato morno com o público, o calor que massacrou a plateia do Guaíra, a falta de um roteiro mais definido no show e os senões individuais de alguns músicos construíram um espetáculo que, em vez de caminhar para o futuro, como sugerido por João Barone em entrevista à esta Gazeta, relembrou mal o passado. GG

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