Judi Dench e Steven Coogan estrelam o tocante Philomena, indicado ao Oscar de melhor filme| Foto: Divulgação

Prepare seu coração para assistir a Philomena, desde ontem em exibição nos cinemas de Curitiba. Indicado ao Oscar em quatro categorias – filme, atriz (Judi Dench), roteiro adaptado e trilha sonora original –, o longa-metragem do cineasta britânico Stephen Frears (de A Rainha e Ligações Perigosas), por mais que o diretor opte pela contenção, na tentativa de evitar uma abordagem melodramática, é tão comovente, que é difícil sair do cinema de olhos secos.

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Baseado no livro-reportagem homônimo, assinado pelo jornalista Martin Sixsmith, lançado no Brasil pela Verus Editora, Philomena tem como personagem-título uma enfermeira irlandesa (Judi Dench, em atuação extraordinária), que resolve quebrar o silêncio em torno de um fato trágico de sua juventude, sobre o qual jamais falou com ninguém. Nem mesmo com a filha.

Há 50 anos, quando ainda era adolescente e, órfã de mãe, vivia de favor, em troca de trabalho, em um convento na localidade de Roscrea, interior da Irlanda, ela deu à luz um menino, Anthony, fruto de um namorico. Como punição por ter mantido relações sexuais antes do casamento, Philomena é impedida pelas freiras de ficar com a criança, que é adotada por um casal, cuja identidade jamais conseguiu descobrir.

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Corroída pela culpa, a enfermeira decide que é hora de rever o seu passado, e buscar saber o que aconteceu ao filho. Para isso, conta com a ajuda de Martin Sixsmith (Steven Coogan, ótimo), que demitido de um alto cargo público, atravessa profunda crise existencial. Embora relutante em um primeiro momento, ele vê no caso a possibilidade de fazer seu retorno à imprensa com uma grande reportagem.

A investigação do que teria acontecido a Anthony o leva, sempre em companhia de Philomena, uma mulher simples, mas sensível e, à sua maneira, muito perspicaz, a Roscrea e, por fim, aos Estados Unidos.

Um dos grandes trunfos do filme é o ótimo roteiro de Coogan e Jeff Pope, indicado, merecidamente, ao Oscar, depois de ter sido premiado no Festival de Veneza do ano passado. A história de Philomena vai se desdobrando aos poucos, sem pressa, permitindo que tanto a personagem central como Sixsmith, um sujeito cético e pessimista, estabeleçam entre si um vínculo bastante forte de cumplicidade, que também é uma das razões de ser do filme. O jornalista, de certa maneira, se torna um pouco o filho perdido da protagonista.

Sóbrio, ainda que muito comovente, Philomena também se beneficia da bela trilha sonora do francês Alexandre Desplat (de O Discurso do Rei), que, embora potencialize a dramaticidade e o suspense da trama, não é invasiva ao ponto de dizer ao público o que sentir em uma obra que também pode ser vista como uma denúncia contundente de pecados cometidos no passado pela Igreja Católica na Irlanda, já retratados no longa-metragem Em Nome de Deus (2002), de Peter Mullen, Leão de Ouro no Festival de Veneza. GGGG