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Uma frase atribuída ao comediante Will Ferrell diz que a stand-up comedy é "difícil, solitária e viciante". Isso dito por quem escreve e encena os espetáculos. Pelo ponto de vista do público, bastaria o "viciante".

Nunca o gênero fez tanto sucesso no Brasil. Na televisão – em atrações como CQC e Programa do Jô –, em teatros e bares, o sujeito que fala com humor sobre temas triviais para um público que quer rir conquistou espaço.

É uma invasão. Atores deixaram as peças – ou deram um tempo a elas – para abraçar o formato. Bares criaram espaços fixos em suas programações e as apresentações conseguem proezas como uma média de 250 pessoas por noite (numa segunda-feira!). É o que faz o Santa Comédia em Curitiba. Com um quinto do público, uma peça teatral seria considerada um sucesso.

Teorias para explicar o bom momento da stand-up comedy envolvem a internet, a decadência dos programas humorísticos na tevê, talento e até o mal-estar de se viver com pouco tempo livre e muito a fazer.

Diogo Portugal, um dos protagonistas da cena nacional de humor, em cartaz na cidade com o Senta pra Rir, começou no Clube da Comédia em São Paulo. Faz stand-up há pelo menos uma década, criou a mostra Risorama, paralela ao Festival de Curitiba, de teatro, e passou o microfone para vários talentos que, hoje, têm o seu próprio show. Caso de Marco Zenni, Leo Lins e Fabio Lins (apesar do nome, não existe nenhum parentesco entre os dois).

"YouTube", diz Portugal. "Eu sou um produto do YouTube." O curitibano acredita que o site de vídeos foi decisivo para criar a febre que não dá sinais de baixar. Os acessos aos fragmentos de suas participações no Programa do Jô e no Domingão do Faustão, somados, são mais de 7 milhões.

A internet teria incluído a stand-up comedy no universo da cultura popular.

Existe diferenças entre contar piadas – como faz Ari Toledo e fazia o Costinha –, encenar peças de humor com personagens (base de programas como A Praça É Nossa e Zorra Total), cantar músicas engraçadas (ouça o Juca Chaves) e fazer stand-up comedy.

As chamadas rotinas de humor não têm música e mostram o comediante de cara limpa dizendo um texto escrito por ele mesmo (não se usa material alheio). O problema da "comédia em pé", segundo Portugal, é que o sujeito se mostra como é. "Acho muito difícil. Se o público não gostar (do show) é porque não gosta de você", explica.

A platéia é considerada um elemento do espetáculo. Sem a participação dela, uma apresentação fracassa. "O Woody Allen dizia que, se fizesse rir uma mesa (na casa noturna onde fazia suas rotinas), ganharia o resto do público em pouco tempo."

Não se pode falar desse tipo de humor sem citar Seinfeld. Produzido ao longo da década de 1990, o seriado levava o nome de Jerry Seinfeld, que interpretava a si mesmo (sua canastrice como ator é reconhecida por meio mundo): um comediante que trabalha com stand-up. O fim de cada episódio quase sempre trazia um trecho breve de uma rotina de Seinfeld.

Se Woody Allen transformou a autodepreciação em arte, Seinfeld fez do cotidiano uma fonte extraordinária de piadas. É uma fórmula. Descreve-se uma situação qualquer para, no desfecho, entregar a punchline, a observação que revela o que há de absurdo naquilo que acabou de ser mencionado.

Um exemplo típico de uma observação à la Seinfeld: por que um policial, depois de perseguir o bandido, lutar para prendê-lo, dar uns sopapos e pôr as algemas, na hora de colocar o criminoso no carro, cuida para ele não bater a cabeça na porta?

"O público se identifica com esse tipo de humor", diz Marco Zenni, que atribui à televisão parte do sucesso da stand-up comedy hoje, citando o CQC com Danilo Gentili e o 15 Minutos de Marcelo Adnet. Eles seriam resposta para um tipo de humor apelativo que tomou conta da tevê e entediou a audiência. Zenni, do Santa Comédia, afirma que os temas comuns a várias pessoas são o forte do gênero. Falar sobre casamento ou sobre supermercado torna a identificação mais fácil.

Para o ator Richard Rebelo, a stand-up é uma "válvula de escape", uma forma de humor "descompromissada com tudo", em que "nada é levado a sério". Victor Hugo também tem formação teatral e experimentou com a stand-up e diz que ela foi uma resposta à pobreza do humor televisivo.

Antes de descobrir a "comédia em pé", Hélio Barbosa sempre admirou o formato conhecido como one-man show, o espetáculo em que um homem só faz de tudo, um pouco. Canta, dança, atua e faz rir. "Como Sammy Davis Jr.", cita. Barbosa afirma que a stand-up conseguiu mudar hábitos do público. "A pessoa pode ir a um bar e ouvir música ambiente, mas comédia ambiente não existe. É preciso prestar atenção", afirma.

O poder do humor, para ele, está na capacidade de mostrar outras formas de se encarar o cotidiano. Quando alguém ri de alguma coisa, é possível que tenha mudado sua forma de encará-la.

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