Livro
Todos os Homens do Presidente Carl Bernstein e Bob Woodward. Tradução de Denise Bottmann.Três Estrelas, 424 págs. R$ 69,90.
"O encontro com Garganta Profunda gerou a divergência mais séria entre Bernstein e Woodward desde que haviam começado a trabalhar juntos, sete meses antes. A dúvida era se conseguiriam escrever um relato convincente e bem documentado dos papéis de Mitchell e Colson."
Fim de semana típico para um repórter: o telefone toca às 9 horas cedo demais para um sábado e ele é convocado para cobrir um arrombamento da sede do Partido Democrata. Sem muita vontade, o jornalista, no caso Bob Woodward, levanta para ver o que aconteceu. O fato aparentemente morno daquela manhã deflagrou uma das maiores investigações jornalísticas do século 20, e fez o então presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon, renunciar ao cargo em 1974, dois anos depois do início da cobertura.
A narração do famoso Caso Watergate, escândalo político que descobriu a implantação de escutas clandestinas na sede do Partido Democrata localizado em um complexo de edifícios chamado de Watergate, na capital Washington é o tema de Todos os Homens do Presidente. Lançamento da editora Três Estrelas, o livro estava fora de catálogo no Brasil desde a década de 1980.
Assim que percebeu que o caso era mais do que uma invasão, Woodward, que na ocasião trabalhava há menos de um ano no jornal Washington Post, periódico responsável por investir no caso, lutou pela cobertura. Logo depois, ela ganhou o apoio de outro repórter, Carl Bernstein. Ambos tinham menos de 30 anos na época, e não havia empatia entre eles.
Mas a dupla se complementava: Woodward era melhor relacionado e tinha a fonte mais quente, um membro do FBI conhecido por anos como "garganta profunda" Mark Felt, ex-diretor da agência de investigação, identidade que foi revelada somente em 2008, após sua morte. Já Bernstein era conhecido pelo bom texto: numa das primeiras matérias, ele interferiu no que já estava escrito, e melhorou o conteúdo consideravelmente. Mesmo ressabiado, Woodward viu o quanto o apoio do colega seria positivo.
A investigação, ganhadora do Prêmio Pulitzer em 1973, é contada em uma linguagem quase cinematográfica, algo que contribui para o envolvimento do leitor, que, às vezes, pode se perder em meio a tantos nomes, desde os editores do jornal até pessoas em cargos do alto escalão do governo.
Ofício
Todos os Homens do Presidente, que tem prefácio do jornalista Eugênio Bucci e posfácio do diretor de redação do jornal Folha de S. Paulo, também leva a uma reflexão sobre o trabalho do repórter e da dinâmica do dia a dia de um jornal. Se a dupla não tivesse insistido no caso, talvez alguns editores não teriam se dado conta do que tinham em mãos. Além disso, o fato de deslocarem os profissionais para uma cobertura específica acabou, de certa forma, ditando algumas regras do jornalismo investigativo. GGG
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