• Carregando...

É possível fazer uma aposta: dentro de poucos anos, vai surgir uma grande corrente de nostalgia dos anos 90. As pessoas de seus 20 e poucos anos vão admirar os grunge, alguns inclusive deixando de tomar banho, outros ficando só na aparência enflanelada; vão sair livros sobre os baianos do É o Tchan!; gostar de Jaspion vai ser bacana e as pessoas vão andar falando bem das Spice Girls. Não é preciso ser adivinhão para prever isso. A cada década, surge uma previsível nostalgia pelos tempos de 20 anos atrás – quando as pessoas que cresceram naquele mundinho se converteram nos adultos que mandam nas editoras e na programação das tevês.

Agora, a onda é gostar dos anos 80. Muita festa de 5.ª série, almanaques sobre a década, sites especializados em objetos de fetiche e pronto: tudo virou gracinha. Um novo livro que sai agora pela Ediouro alimenta o mesmo sentimento. Mas o lado bacana de 1985 – O Ano em Que o Brasil Recomeçou é que os jornalistas Edmundo Barreiros e Pedro Só conseguem tirar sarro das próprias saudades que eles e seus contemporâneos sentem do período. "Os caras ficam fazendo festa Ploc", diz Barreiros, nascido em 1966. "Eu acho que como piada é ótimo, mas não quero ficar só ouvindo ‘Ursinho Blau Blau’. Só como piada", completa.

Segundo os autores, os anos 80 foram, sim, divertidíssimos. Mas não eram coisa de criança. "Percebi que o ano mais importante para entender aquela época era justamente 1985, bem no meio do período e com vários eventos importantes", afirma, fazendo referência, entre outros, à eleição de Tancredo Neves e ao Rock in Rio. Os dois, aliás, aconteceram praticamente ao mesmo tempo, em janeiro daquele ano. Logo em seguida, viriam outros fatos importantes ou curiosos para os brasileiros.

Era o ano em que Ayrton Senna começou a correr pela Lotus, passando a ter chances reais de ganhar um título na Fórmula-1. Foi o ano em que os Menudos vieram ao Brasil, deixando em estado de chilique centenas de milhares de menininhas – que hoje são executivas sérias, mães de fãs de Backstreet Boys ou editoras de livros sobre os anos 80. Era o tempo do fim da censura – quando a atriz Vera Zimmermann foi a primeira a aparecer em nu frontal num comercial brasileiro, aumentanto em 25% as vendas das duchas Lorenzetti.

O livro conta, mês a mês, a história desse ano importante e bizarro ao mesmo tempo. Já no início, narra a epopéia de um presidente que não pôde tomar posse – e a tragédia de seu vice ser José Sarney. Sim, estamos falando de política, mas os autores não perdem nem um pouco do bom humor. Humor que certamente fica mais óbvio nos momentos em que as vítimas são do mundo pop. Como na descrição de James Taylor, o cantor de baladas que inusitadamente foi convidado a se apresentar no Rock in Rio. "Ele tinha na época 36 anos, mas parecia tão velho quanto uma tartaruga gigante das Galápagos para o público niuêive brasileiro."

A descrição de todo o período é pontuada por fatos inusitados, descobertos pelos jornalistas enquanto eles folheavam notícias da época. Exemplo é o caso da juíza Márcia Moura. Hoje em dia, pouca gente lembra. Mas, à época, ela causou furor ao publicar um livro de confissões eróticas. O nome da obra diz tudo: Por Debaixo da Toga. Márcia chegou a fazer campanha para a Academia Brasileira de Letras, usando como trunfo a descrição de sua vida sexual. Uma visita ao então presidente da academia, Austregésilo de Athayde, terminou em piada quando o velhinho, nos seus 88 anos, começou a brincar de passar falsas cantadas na moça.

Barreiros admite, porém, que no Paraná o livro pode causar um pouquinho a mais de polêmica do que em outros estados. É que, ao falar sobre o ano esportivo, os dois cariocas garantem que o melhor time de futebol de 1985 era o Bangu – que perdeu a final do Campeonato Brasileiro para o Coritiba. "Ninguém contesta o título do Coxa, mas o Marinho, do Bangu, realmente jogava muito", diz Barreiros, torcedor do Fluminense, sorrindo de leve.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]