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O motorista de táxi Antonio Joaquim Ferreira passa pela estátua de Marques de Pombal, aponta para a avenida da Liberdade, e explica que ela foi construída pelo nobre após o terremoto de 1755 que destruiu parte de Lisboa. Vê a Ponte 25 de abril , lembra da Revolução dos Cravos, em 1974. Conta que achou muito bonita, porém desnecessária, já que o ditador Salazar havia morrido quatro anos antes e o processo de reabertura aconteceria de qualquer maneira. A espontaneidade do taxista ao lembrar de sua própria história contrastava com a insistência do guitarrista, compositor e cantor da banda Television, Tom Verlaine, em se negar, poucos minutos antes, a falar do seu passado na entrevista que deu no saguão do hotel na capital portuguesa antes do show que faria na sexta-feira, antes de seguir para a apresentação no Azkena Rock Festival, em Bilbao, na Espanha, no sábado.

O guitarrista que, ao lado do companheiro Richard Lloyd, assombrou o mundo do rock com o disco "Marquee moon", lançado no mesmo ano da revolução no país de Seu Antônio Joaquim - a banda ainda conta com o baixista Fred Smith e o baterista Billy Fica - influenciando nitidamente grupos de gerações posteriores como U2, Pavement, R.E.M., Strokes, Kings of Leon e outros, respondia com um "I don´t know" a questões sobre o CBGB, clube que foi o berço do movimento punk americano, em Nova York, e que está ameaçado de fechar as portas e sobre as duas separações da banda. Tudo bem se não fosse o Television uma banda que vive exatamente do mito construído os anos 70, quando ele injetou ânimo no mundo roqueiro com arranjos e solos inusitados - até hoje, para muitos indefiníveis - sobre melodias e acordes convencionais do rock.

- Viver em função do passado é perda de tempo. Eu não sei, não lembro. O que passou, passou. Isso é da natureza humana. - respondeu irritado entre um cigarro e outro. - Não acredito que isso seja a melhor maneira de se viver.

Depois de uma turnê de quatro meses por 25 cidades da Europa, justamente acompanhando Patti Smith (" Ela me pagou um bom dinheiro e eu fui. Foi ótimo porque já conhecia a banda toda"), ele retoma a estrada com seus velhos companheiro e desembarca no Brasil para apresentação no TIM Festival no dia 23 de outubro. No mesmo festival estarão bandas que dizem abertamente terem sido influenciadas por eles como os americanos do Kings of Leon e do Wilco, e outras que são comparadas desde os seus primeiros passos como os Strokes. Se não gosta nem um pouco de lembrar dos seus vinte e poucos anos, Verlaine, nome artístico que homenageia o poeta Paul Verlaine, parece não se interessar muito pelo rock feito atualmente.

- Não conheço o Strokes muito bem, mas já percebi que não são bons o suficiente para serem comparados com o Television - diz, calmamente, com o seu jeito tímido e de poucas palavras.-Bem, então talvez uma boa maneira de fazê-lo falar dos "bons tempos" seria tentar fazer uma ponte com o atual momento da banda, que pretende lançar um disco de inéditas daqui a uns nove meses.

- Nem a parte física pesa, porque quando tínhamos 20 e oito anos pensamos: "Não adianta eu ficar pulando feito um coelho agora, se quando eu tiver 60 não vou conseguir". Então, como nunca fizemos isso, não corremos o risco de ter que fazer isso agora.Mas, na seqüência, uma pergunta sobre as lembranças que tinha dos tempos de CBGB, berço de grupos como Ramones e Talking Heads, o tirou do sério:

- Não lembro de nada! Apenas que tinham uns cachorros por ali. Muitos cachorros. Ah, e também muita merda de cachorro no chão.

Verlaine se gaba do fato de os shows do Television nunca serem iguais aos outros, já que ele e seu parceiro Richard Lloyd são mestres nos improvisos. Para o show do Rio ele promete algumas novidades em meio a clássicos do grupo como "Marquee moon", "Little Johnny jewel", "Foxhole" e "Venus de Milo" :- Nao conheço o Rio e nem o festival. Mas vamos fazer o mesmo show com o qual temos corrido vários países. Não somos uma banda comum porque como eu e Richard gostamos e jazz, do improviso, naturalmente tomamos caminhos inusitados. Mas quando falam da atualidade da banda, é bom lembrar que muita gente que acompanha nossos shows sequer tinha nascido quando surgimos. Por isso gostamos de olhar para a frente. Se subimos em um palco é porque ainda sentimos prazer em tocarmos juntos.

Perguntado sobre o diferencial do Television - que ficou nativo entre 1979 e 1992, quando se reuniu para a gravação de um disco, e que retornou há três anos - em meio a tantas bandas novas e um mercado implacável, Verlaine se enche de brios:

- Somos uma banda atípica. Quase não gravamos, não vendemos muitos discos e somos pouco ouvidos nas rádios. Mas sempre fomos felizes desta maneira...

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