São Paulo - Quem gostou de Paris, Eu te Amo(2006), uma reunião de 22 curtas-metragens de diretores de várias partes do globo que tem como cenário e inspiração a capital francesa, não pode deixar de assistir a três produções na mesma linha trazidas pela Mostra Internacional de São Paulo, que se realiza de 23 de outubro a 5 de novembro.
A melhor (e mais insana) delas é, sem dúvida, Tokyo! (2008), exibida no Festival de Cannes, formada por um trio de episódios, cada um deles dirigido por alguns dos mais criativos diretores da atualidade: os franceses Michel Gondry e Leos Carax e o sul-coreano Bong Joon-Ho (que também está na Mostra com o longa-metragem Mother, exibido na mostra Um Certo Olhar, do Festival de Cannes).
Mas há também Alemanha 09 (2009), em que 13 cineastas lançam um olhar pessoal sobre a Alemanha contemporânea, e Nova Iorque, Eu te Amo, mais próximo à proposta de Paris, Eu Te Amo. O filme é uma espécie de caleidoscópio romântico encenado em Manhattan e arredores, formado por curtas de 11 diretores, entre eles, a atriz Natalie Portman (Closer Perto Demais, 2005) e o alemão de ascendência turca Fatih Akin (Do Outro Lado, 2007).
A megalópole japonesa é o cenário ideal para as loucuras do mentor de Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças (2004) e Rebobine, Por Favor (2008).
Em "Interior Design", episódio que abre Tokyo!, Gondry relaciona as dificuldades enfrentadas pelo Japão de hoje, como a falta de espaço e o desemprego, a questões existenciais vividas pela juventude de qualquer país. Seus personagens centrais são um casal que chega a Tóquio sem lugar para morar e disposto a realizar seus sonhos: ele quer ser cineasta e ela... bem, ela é "a namorada do artista", que tem vários hobbies, mas nenhuma ambição. Hospedam-se temporariamente no cubículo de uma amiga enquanto não acham um apartamento. Enquanto ele começa a estabelecer uma relação, ainda que ínfima, com a cidade, a garota se sente deslocada e inútil. E aí Gondry dá início às suas fantasias transformando-a em uma cadeira e, conferindo-lhe, enfim, uma serventia.
O cinema fantástico não perde o rumo em "Merde", dirigido por um Leos Carax (Os Amants da Pont-Neuf, 1991) disposto ao humor em um episódio que é, certamente, o mais bizarro de Tokyo!. Logo no início, um impressionante e frenético plano-sequência segue o passeio selvagem do Senhor Merde, saído do esgoto, por uma das ruas mais chiques de Tóquio, até que ele entra novamente em seu buraco. A narrativa inspira-se em Godzilla para retratar ironicamente o pânico dos cidadãos japoneses diante da violenta invasão.
Mas a obra-prima entre os curtas é "Shaking Tokyo", em que Joon-Ho ficcionaliza com extrema sensibilidade um problema social enfrentado pelos japoneses: o crescimento do número de "hikikomoris", pessoas que vivem totalmente isoladas em suas casas por anos a fio.
Bem mais simples do que os episódios anteriores, o surreal aqui está na própria realidade que, de tão absurda, não exige estripulias de roteiro. Joon-Ho retrata a rotina metódica de um jovem que vive há 10 anos em reclusão absoluta em sua casa, onde acumula, de modo incrivelmente organizado, itens básicos para uma vida de eremita urbano: caixas de pizza, rolos de papel higiênico e livros, muitos livros. Até que, ao receber a costumeira encomenda de pizza aos sábados, deixa-se envolver pela entregadora, uma garota com botões tatuados no corpo onde estão escritas palavras como "amor", "tristeza" e "coma". O filme está previsto para estrear nos cinemas brasileiros em 27 de novembro.
A jornalista viajou a convite da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
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