• Carregando...

Prêmios

• A Criança rendeu aos irmãos Jean-Pierre e Luc Dardenne a segunda Palma de Ouro do Festival de Cannes, em 2005.

• A dupla de cineastas belgas já havia vencido o importante evento francês em 1999, com Rosetta, ainda inédito no Brasil.

Não é muito comum a adolescência e a juventude serem retratadas de uma maneira mais séria no cinema, principalmente na hegemônica produção americana, que quase sempre investe em comédias escatológicas ou suspenses de terror B para mostrar, de maneira estereotipada, essa fase comum à vida de todas as pessoas. É raro ver filmes que apresentem histórias ou tramas mais complexas com personagens jovens como A Criança, dos irmãos diretores belgas Jean-Pierre e Luc Dardenne, que está sendo lançada este mês nas locadoras. A produção valeu, em 2005, a segunda Palma de Ouro do Festival de Cannes aos cineastas, honraria conseguida inicialmente com Rosetta (1999), ainda inédito no Brasil.

A Criança tem certos pontos em comum com a obra anterior dos Dardenne, O Filho (2002). Ambos destacam adolescentes como personagens centrais e a tensão das tramas vai aumentando aos poucos, à medida que detalhes importantes vão sendo revelados. Chega-se a situações-limites, que levam à reflexão, do tipo "e você espectador, o que faria? O que pensa do tema tratado?" No caso de O Filho, um homem dá emprego ao rapaz que matou seu jovem filho. Em A Criança, um jovem re-solve vender o filho que acabou de nascer.

Bruno (Jérémie Renier) mal saiu da adolescência, como in-dicam todas as suas atitudes. Ele vive apenas de pequenas ações criminosas, assaltos em sinas de trânsito ou rápidos furtos em lojas. Seu parceiro de trambiques é Steve (Jérémie Segard), um menino de uns 14 anos. Ele namora Sonia (Déborah François) e às vezes dorme em seu pequeno apartamento. Ela engravida, mas a chegada do bebê não muda em nada o comportamento quase infantil do rapaz.

Como ele poderia dar atenção a uma criança se ele mesmo ainda é uma? Esse é o foco da narrativa dos Dardenne, também responsáveis pelo roteiro do filme. Mas os diretores não apresentam julgamentos morais sobre o personagem, tampouco se apiedam dele. Apenas observam e acompanham suas ações, mostrando-as ao público quase como um documentário. É o espectador que deve fazer seu julgamento sobre o que está vendo.

Tudo é muito direto e seco, um estilo que marca o trabalho dos irmãos cineastas, que mostram no filme um lado pobre e quase miserável da Europa, uma visão que tem aparecido mais constantemente no cinema feito no velho continente. A produção não apresenta trilha sonora instrumental – há poucos sons, como o barulho das ruas. O silêncio, talvez para a contribuir para a reflexão do público, predomina.

Para Bruno, o ser que chega é apenas um incômodo, com seu choro interminável. Logo, nada mais natural do que se livrar dele na primeira oportunidade possível, que aparece rapidamente. Sem qualquer tipo de remorso ou sentimento, o rapaz vende a criança. Ele vai demorar para atinar as conseqüências reais de seu ato. Inicialmente, correrá de volta atrás da criança apenas para evitar a ira da parceira ou se livrar de ser preso. Mas, no fim, ele verá que passou por um difícil e tortuoso rito de passagem para a fase adulta da vida. GGGG

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]