Ulysses, escrito pelo irlandês James Joyce, não é um livro fácil. Não bastassem suas mais de mil páginas, elas foram escritas usando um vernáculo particular, quase indecifrável a não iniciados.
Quem havia desistido de enfrentá-lo, porém, deve ganhar um novo ânimo.
Responsável pela versão nacional mais recente do romance “Ulysses” (1922), publicada pela Companhia das Letras em 2012 e vencedora dos prêmios Jabuti e da APCA, o tradutor e colunista do Caderno G Caetano W. Galindo lança agora pela mesma editora o livro “Sim, Eu Digo Sim”, um guia de leitura de 376 páginas para o catatau de Joyce.
Com a autoridade de quem passou dez anos trabalhando na tradução do romance, e outros tantos dissecando o texto com seus alunos de linguística na Universidade Federal do Paraná, Galindo apresenta personagens e cenários, explica os contextos históricos da ação e a relação da obra com a Odisseia de Homero, além fazer uma análise da estrutura labiríntica e linguagem única do livro. “Um jeito de falar ‘reto’ por diagonais... E que diagonais!”
Foi a experiência de apresentar o livro aos alunos em sala de aula que o levou a escrever seu guia.
“Queria levar a um número maior de pessoas a experiência de mostrar aos leitores os detalhes, as chaves, as graças ocultas que os fazem perceberem melhor (e mais rápido) o que o livro tem a dar, mas que normalmente fica escondido sob a densa capa da ‘complexidade’ formal”, diz.
Ele explica que o guia é como uma aula em que ensina “como” se lê o Ulysses, apresentando atalhos e notas de rodapé. “Eu queria fazer isso pelos leitores que não estão na minha sala de aula.”
Caetano observa que apesar de existir uma vasta produção de todo o tipo de material sobre o Ulysses, não conhece um guia como este. “Porque não é uma ‘anotação’ e não é uma ‘interpretação’... É realmente um passeio na companhia de alguém que já visitou aquele lugar centenas de vezes e leu dezenas de livros sobre ele. É de fato uma “visita guiada.”
Sua pretensão era que leitores ou releitores do Ulysses possam ter um “aproveitamento e uma compreensão que normalmente só vêm depois de várias leituras, e de uma familiarização com aquela literatura de apoio”.
Evangelizador
Galindo gosta de se ver com a missão de levar a “boa nova” joyceana aos povos. “Levar um livro de qualidade aos outros é uma missão bacana, né?”.
Ele acha que em 2016 a gente precisa hoje tanto do Ulysses quanto o pessoal precisava em 1922. “Para aprender a ser gente, a ter mais empatia, a viver sob a sombra da morte, do incompreensível, do insuperável e do insuportável, mas a viver com a leveza e o agradecimento de quem prefere a vida. A vida a qualquer outra coisa. Como ela seja. É fundamentalmente isso que Bloom tem pra ensinar.”
Deixe sua opinião