As três tias de Toda Nudez Será Castigada: momentos de grande comunicação com a plateia| Foto: Divulgação

O Armazém expandiu seu público curitibano trocando o Teatro da Reitoria (Inveja dos Anjos e Mãe Coragem e Seus Filhos), pela grandiosidade do Guairão. Conquistou novos admiradores e sedimentou o vínculo com os que já o seguiam, ao realizar em cena a tragédia – mas também o humor – de uma das melhores peças de Nelson Rodrigues, Toda Nudez Será Castigada, no fim de semana.

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O alto nível da montagem vem da atenção dupla ao texto e à imagem. No elenco, se percebe uma compreensão profunda da questão proposta pelo dramaturgo carioca: o moralismo exarcebado que cria o casto e a libido reprimida que explode no obsceno. Os atores contribuem, criando personagens delineados, inclusive pela linguagem corporal expressiva.

Transitam por um cenário, imaginado pelo diretor Paulo de Moraes, que os liberta do realismo. Portas giratórias os jogam em cena – ou o contrário, os sugam de volta ao limbo –, tornando a ação ágil. É uma das intervenções que deixam cravadas as digitais do diretor sobre a obra original, cheia de personalidade. Outra é a propagação da fantasia sexual de Hercu­la­­no, convertendo o padre e o médico em atraentes mulheres. Sem trair sua ma­­téria-prima, o Armazém se impõe personalíssimo também.

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Fica até difícil destacar apenas um ator. As três tias, por exemplo, pontuam a castidade doentia e pro­­tagonizam momentos de grande comunicação com a plateia – envoltas em um figurino bastante significativo, de amplas saias ne­­gras que as plantam no chão, sem qualque chance de "arejamento" sexual. Até que, também mudadas, surpreendem de pernas à mostra.

Geni começa simplória e ganha profundidade. Sua cena final é um dos grandes momentos da atriz Patrícia Selonk sobre os palcos. GGGG