Dependendo do humor e do ponto de vista, "Transformers" (veja trailer), de Michael Bay, que chega aos cinemas americanos nesta terça-feira (3) e no Brasil dia 20, é: a) Duas horas e 23 minutos extremamente barulhentos em torno de muito pouco; b) Um fascinante produto da indústria americana de entretenimento de massa; c) Uma meditação sobre o poderio militar americano e tudo o que pode dar errado (e se nossas armas se voltassem contra nós?); d) Uma série de comerciais de um fabricante de automóveis e caminhões, do alistamento militar e de uma nova linha de brinquedos; e) Mais uma apelação descarada para capitalizar o crescente poder de compra da geração que era criança ou adolescente nos anos 80.Ou todas as opções acima. Com duas horas e 23 minutos (que demoraram a passar, mesmo no ritmo frenético típico de Michael Bay), "Transformers" tem muito pouco para se sustentar.
Os efeitos, é claro, são espetaculares a realização do sonho de todo garoto que esperava ver seu Optimus Prime ou Megatron se transformar de verdade. Entretanto, quando helicópteros, caminhões, tanques, um Camero e um celular não estão se transformando em "seres extraterrestres não-biológicos" e os humanos têm que se virar com um roteiro em que dizem coisas como "mas o que é isso?", "não me diga que isso está acontecendo!" e "não pode ser verdade!", nem a intrincada (e superbarulhenta) trilha sonora consegue manter a atenção.
Para quem desembarcou neste século por meio de algum atalho, "Transformers" é o primeiro longa-metragem com atores inspirado numa linha de brinquedos da Hasbro que, nos anos 1980, já tinha sido transformada em série de TV e filme, ambos animados.
Os robôs do bem (Autobots) são liderados por Oprimus Prime e gostam dos seres humanos. Os do mal (Decepticons) são docilmente oprimidos por Megatron e querem destruir tudo pelo caminho. Seu charme é que nunca parecem ser o que são mega-robôs e sim objetos mecânicos. Um problema para a realização de um filme realista, que os efeitos digitais resolveram elegantemente há poucos anos.
O filme tece um arremedo de história em torno disso, usando como artifícios narrativos um adolescente cujo grande sonho é ter seu primeiro carro (o novo "darling" Shia La Beouf) e um grupo de soldados sobreviventes do ataque de um Decepticon particularmente mal-encarado.
Em jogo, é claro, a sobrevivência da espécie humana, já que as duas facções perderam seu lar natal de tanto brigarem por ele. Aliás, é sempre intrigante notar que, com todo seu poderio extraterrestre, os Transformers sempre acabam resolvendo a coisa no tapa, quando partem para o cara a cara.
As mega-seqüências de transformação/confronto/fuga são divertidíssimas, e, em alguns breves momentos, Bay consegue até ser docemente irônico na cena em que um bando de Autobots gigantescos tentam se esconder numa pacata casa suburbana, por exemplo. Mas o fetiche militarista, o besteirol da história e a longa metragem acabam comprometendo a diversão.
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