O cinema de baixo custo (para os padrões hollywoodianos) marcou forte presença no Oscar deste ano. Além dos premiados Crash – No Limite e O Segredo de Brokeback Mountain, houve espaço até para que um pequeno filme, realizado com apenas US$ 1 milhão, recebesse duas indicações às estatuetas douradas. O independente Transamérica, que estréia hoje em Curitiba, foi finalista nas categorias de melhor atriz e canção ("Travelin’ Thru", de Dolly Parton)

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A produção tem como personagem central um transexual, premissa que poderia supor uma história ousada e transgressora. Mas o diretor Duncan Tucker apresenta um trabalho convencional em sua estrutura, uma história conciliadora, apesar da temática apresentada – e que por isso deve ter agradado a Academia. Ou seja, fala de marginalizados, mas de forma comportada, tudo para não ofender ou escandalizar muito o conservador espectador norte-americano.

A trama destaca Bree – intepretada por Felicity Huffman, a Lynette do seriado Desperate Housewives –, prestes a realizar a operação definitiva de mudança de sexo. Porém, dias antes dessa data especial, ela recebe a notícia de que tem um filho adolescente, preso em Nova Iorque. Toby (Kevin Zegers), michê de 17 anos, é fruto da única experiência hétero de Stanley (a identidade real de Bree) – definida de forma divertida e espirituosa pelo personagem como algo tão lésbico que achou que nem havia valido como relação. Moradora do interior, ela é o único familiar que resta ao rapaz, mas hesita em conhecê-lo. Bree é convencida por sua psicóloga, que ameaça não assinar a permissão para a operação se ela não for acertar as contas com seu passado.

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Segue-se um tradicional road movie, com Bree e Toby cruzando o país em um carro. Haverá o estranhamento inicial (o transexual não revela ao jovem que é seu pai), mas, aos poucos, eles se acostumarão um com o outro – leia-se: vão trocar experiências de vida e aprender muito com elas. Pelo caminho, a dupla encontra outros marginalizados e alguns personagens freaks, tão comuns no cinema independente americano.

Estranhamente, o personagem de Bree não gera grandes conflitos para a trama. Ela é contida nas emoções e conservadora no vestir e em suas convicções (parece até uma republicana) – fica chocada com o comportamento rebelde do filho e quer apenas ser aceita como mulher pela sociedade, vivendo uma vida pacata no interior.

O que segura o filme é a inspirada interpretação de Huffman, que levou o Globo de Ouro de melhor atriz dramática –, uma atuação bem superior ao feijão com arroz de Reese Whiterspoon em Johnny e June, mas, como já aconteceu em outras ocasiões, a atriz mais nova e com maior potencial no mercado levou o Oscar. A "desesperada dona de casa" é um talento que deveria ser mais notado pelos produtores de cinema. GGG