• Carregando...
Ideologia libertária de Jim Morrison ganha corpo na atuação de Leão | Divulgação
Ideologia libertária de Jim Morrison ganha corpo na atuação de Leão| Foto: Divulgação
  • Mazzeo faz seis personagens de cara lavada

Nos anos 1960, o rock-and-roll ecoou aos quatro ventos as mudanças comportamentais pretendidas pela contracultura. Neste Festival de Curitiba, o estilo musical e sua atitude transgressora são materiais para Eriberto Leão e Bruno Mazzeo, dois artistas que ocupam o mainstream, abrirem contradições no "sistema".

Filho de Chico Anysio, Mazzeo ganhou fama com a série de humor Cilada e filmes como E Aí... Comeu?. No solo teatral Sexo, Drogas e Rock’n’roll, ele troca o humor piadista por um teor maior de acidez.

O monólogo escrito pelo norte-americano Eric Bogosian alterna o discurso de seis figuras marcadas pelos excessos do título. "São personagens que falam do sistema. Uma estrela do rock, um mendigo, um garotão, um milionário, um empresário musical e um artista que escolhe pintar e escrever na própria cabeça, porque, se mostrar, vira objeto de consumo", resume o diretor Victor Garcia Peralta.

Peralta dirige ainda Quem Tem Medo de Virgínia Woolf?, estrelado por Zezé Polessa (leia na página 6). Assim como Mazzeo, ele soube se encaixar no que está chamando de "sistema". "É quase uma brincadeira interna: ok, já que o sistema te escolheu, qual o jeito de abrir seu próprio espaço e não deixar de ser você? Isso vale para o Bruno e para mim. Tento não fazer uma peça mastigada, e sim que obrigue o espectador a trabalhar."

Para ele, Bogosian também segue essa linha, ao não ser "complacente" com o mercado e manter em suas criações uma postura mais "ríspida", sem julgar os personagens. "Detesto liçãozinha de moral", diz o diretor.

Ideologia

Eriberto Leão quer propagar as ideias libertárias do The Doors no drama Jim. "Cair no musical biográfico seria incoerente com a obra do Jim Morrison. Ele não é só um ícone musical, mas filosófico e poético, que defendia a abertura das portas da percepção", diz o ator.

"Não existe separação entre suas palavras, sua música, sua atitude", acrescenta o diretor Paulo de Moraes, com quem Leão fez Fala Baixo Senão Eu Grito.

O ator se desdobra na pele do roqueiro morto aos 27 anos e de um fã de 40 anos, que joga roleta-russa aos pés do túmulo de Morrison. "Numa atitude esquizofrênica, ele tenta reconhecer a si falando do outro. Muitas das perguntas e respostas que busca estão nas canções", diz o diretor.

O paradoxo se estabelece diante do potencial libertário da arte versus uma idolatria possivelmente aprisionadora. "É responsabilidade dos fãs aprimorar o que os ídolos dei­­xaram, como se subissem nos ombros desses gigantes para enxergar além do que eles viram. Os nossos heróis morreram de overdose para que nós não morrêssemos", diz Leão, de­­sencantado com o modo como as referências artísticas se ba­­ratearam dos anos 1960 para cá.

Se Val Kilmer imprimiu uma interpretação marcante de Morrison no filme The Doors, Leão assumiu a empreitada com não menos obstinação. "Tivemos respostas de quem nunca viu ao vivo um show do Doors e fica satisfeito com a experiência (da peça). Fizemos uma preparação minuciosa para ressuscitar uma pessoa", diz.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]