Yamandu Costa vem produzindo tanto, e tão rápido, que anda tendo de cuidar para que seus lançamentos não se atropelem. Só entre os que já aguardam na fila para as prateleiras estão um disco em duo com o baixista Guto Wirtti, gravações da suíte Impressões Brasileiras feita por encomenda do Museu do Louvre em 2011 e um show com Naná Vasconcelos.
"O negócio é produzir, inventar moda, fazer coisas diferentes que vão se complementando", diz o violonista gaúcho, em entrevista por telefone para a Gazeta do Povo. "É muito prazeroso poder fazer trabalhos tão diferentes."
O projeto da vez é o disco Continente. O álbum traz peças assinadas e tocadas por Yamandu, o já velho parceiro Wirtti e o violonista Arthur Bonilla três gaúchos para um repertório regionalista, permeado pelos ares fronteiriços do Rio Grande do Sul com alguns voos até a cultura cigana que influenciou os músicos durante as composições (surgidas, em sua maioria, durante uma turnê na Europa). "Chamamer" faz um trocadilho com o chamamé argentino e o mar (mer) da ilha francesa de Córsega; "Fronteiriço" evoca música peruana e do caribe colombiano; "Sarará" traz influência paraguaia para o violão gaúcho.
"É algo que acontece naturalmente. Não é um conceito pretensioso", conta Yamandu, que chamou Bonilla para o trio por conhecê-lo desde a infância. "Esse tipo de música precisa que as pessoas entendam desse sabor local". O disco foi gravado em 2010.
A formação, que traz a surpreendente sonoridade de um baixolão com cordas de náilon comprado por Wirtti em Viena, também remete aos trios típicos da música mexicana, peruana, colombiana, argentina e uruguaia. "É uma formação muito latino-americana", diz Yamandu. "Só no Brasil ela não existe. Mas, como a gente namora a Argentina no Rio Grande do Sul, fui criado ouvindo isso. Quis mostrar para o Sudeste [o músico nascido em Passo Fundo mora no Rio de Janeiro] a inteligência dessa formação as vozes que caminham juntas e se complementam, a característica mais latina", explica.
Entre os projetos futuros de Yamandu está uma parceria com Paulo César Pinheiro o letrista, pela primeira vez falando sobre o Sul; o violonista, em sua primeira incursão na canção. "Estão pintando coisas muito diferentes", conta Yamandu. "Mas enfim, este é outro trabalho."