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Texto
Saiba mais sobre A Loba de Ray-ban
Versão masculina
Escrita pelo ator, dramaturgo e diretor paulista Renato Borghi, O Lobo de Ray-ban estreou em 1987, com Raul Cortez e Cristiane Torloni à frente do elenco. Foi um grande sucesso de público e de crítica, um dos maiores na carreira de Cortez, que morreu de câncer em 2006.
Outro lado
A versão feminina do texto foi escrita por Borghi a pedido da atriz Dina Sfat, que sonhava protagonizá-la, mas faleceu em 1989, também de câncer, sem montar a peça.
Diretor
As duas versões do texto foram dirigida por José Possi Netto, com quem Cristiane Torloni já trabalhou várias vezes.
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Um dos grandes sucessos de público do teatro brasileiro no fim dos anos 80, O Lobo de Ray-ban provocava. O texto de Renato Borghi, com direção de José Possi Netto, falava dos bastidores do teatro e discutia com liberdade o espinhoso tema da sexualidade. Raul Cortez (1932-2006), em grande desempenho, vivia um empresário e ator de teatro que se apaixonava por um jovem ator, interpretado na montagem carioca da peça por Leonardo Franco, enquanto vivia um casamento oscilante com a personagem de Cristiane Torloni, também muito elogiada na época por sua atuação.
Passados mais de 20 anos, a versão feminina de O Lobo de Ray-ban, chegou ano passado aos palcos. Havia sido escrita pelo ator, diretor e dramaturgo ao mesmo tempo em que ele criava a masculina, a pedidos da atriz Dina Sfat (1938-1989), que morreu antes de encená-la. Ano passado, coube a Cristiane Torloni inverter o triângulo amoroso: ela é a loba que dá título ao espetáculo.
Nessa versão, que estreia hoje, as 21 horas, no Teatro Positivo, dentro da Mostra Contemporânea, Julia Ferraz, a protagonista, apaixona-se por uma jovem atriz (Maria Maya). Como o personagem de Cortez na primeira montagem, ela é casada e seu marido é interpretado por ninguém menos do que Leonardo Franco, integrante do elenco original, que agora ressurge, como Cristiane, em outro vértice do triângulo.
Quando do lançamento da primeira versão, em 1987, houve certo choque. A redemocratização ainda engatinhava no Brasil e falar de homossexualidade em um espetáculo teatral high-profile era, até certo ponto, uma ousadia. Não se tratava de uma peça gay, contudo. Mas como sexo, por incrível que pareça, ainda pode ser um tabu em pleno século 21 no Brasil, esse tema acaba chamando mais a atenção do que o grande assunto da peça: o relacionamento amoroso e seus desdobramentos a infidelidade, a paixão e o ciúme.
Não seria incorreto descrever A Loba de Ray-ban de uma peça "DR", que discute as intrincadas relações entre pessoas que amam, se apaixonam, deixam de amar e sofrem. Há, no entanto, outro viés igualmente importante no texto de Borghi, seja ele encenado no feminino ou no masculino. Metalinguística, ela também discute o mundo do teatro, seu avesso e bastidores. Afinal, todos os protagonistas são atores.
Como num bom melodrama, mais para as subversões de Pedro Almodóvar do que para novela das oito, a montagem esmiuça a malha de sentimentos que é tecida nesse intenso triângulo de amores. Isso talvez explique a empatia que o texto pode gerar junto ao público, que consegue se identificar com o que é levado ao palco. Não é, nem pretende ser, teatro de vanguarda ou experimentação. Cabe no nicho, digamos, mais mainstream que todos os anos a curadoria se preocupa em oferecer aos frequentadores do Festival de Curitiba.
Não é a primeira vez que Cristiane Torloni vive uma lésbica. Na década passada, ela e Sílvia Pfeiffer viveram um casal na polêmica novela Torre de Babel, de Sílvio de Abreu. Ver duas mulheres, ambas ícones de beleza, como um par amoroso caiu mal. A solução, radical, foi tirá-las da trama de forma trágica: foram literalmente explodidas em um atentado criminoso ao shopping center, um dos cenários principais do folhetim.