Silêncio. Quando termina a sessão de Trilhas Sonoras de Amor Perdidas é a única coisa que você procura. Tanto físico, quanto psicológico. Um espetáculo com três horas de duração e a avalanche de nostalgia costurada por quase 90 canções. De fato, é uma peça sobre música e relacionamentos amorosos. Mas, você não precisa conhecer todas as referências citadas ou ter compactuado com momentos parecidos. Basta gostar de qualquer tipo de música e já ter se apaixonado. Saí do teatro com as memórias atiçadas e a necessidade de reorganizá-las com a mesma ordem passional de uma playlist.
Mais uma vez, a Sutil Companhia passa por cima de regras e tradições dramatúrgicas e apela para o coração e intimidade de cada espectador presente. Bravo. O mito do Som e Fúria continua vivo e com a mesma energia, porém, amadurecida.
Natália Lage flutua pelo palco como uma ninfa punk, enquanto Guilherme Weber exibe os tropeços e a naturalidade de alguém que está em casa ouvindo música e esboçando danças desajeitadas. O apelo emocional corre com as lembranças inseridas em cada fita cassete gravada de forma caseira. Os contextos em que foram montadas, junto com pequenos detalhes de sentimentos que vão do flerte ao sexo, passam pelo casamento e morte.
Nem todos os espectadores que lotaram o Teatro Bom Jesus na noite de sábado permaneceram até o final. As diferenças entre gerações podem impedir a abertura para o fluxo massivo de memórias com suas idas e vindas. Mesmo assim, a peça foi aplaudida de pé, com agradecimentos finais a Leandro Knopfholz. O diretor do Festival de Curitiba fez questão de coproduzir "Trilhas Sonoras..." para sediar sua pré-estreia.
As lembranças de Curitiba são carregadas de sutilezas e simplicidade. Sem lugares comuns. São resgates de uma vida alternativa em esquinas e porões que não partiram para o domínio público, como diz o personagem de Weber. "Felizmente ou infelizmente", complementa. No fundo, foi extamente o que o diretor Felipe Hirsch fez. Levou aos palcos pontos de sua intimidade protegida durante 18 anos de trabalho. Ganhou coro com outras inúmeras vozes anônimas que emprestam seus segredos. Para cada história costurada na montagem, existe uma vida pulsante.
A dica é dada durante a peça. "Trilhas sonoras são trilhas sonoras. Não são espelhos", diz Natália em um determinado contexto. Você precisa viver para ter uma trilha e poder se abrigar na nostalgia. Do contrário, pode estar vivendo um mero videoclipe.
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